Entre as inúmeras coisas que quero dizer, não digo. Até porque são coisas, e coisas são apenas coisas, sem definição.

O amor é tipo uma coisa, que não definimos, mas usamos para explicar algumas outras coisas que estamos sentindo. A gente sente amor na maior parte do tempo, mas não sabe o que é, logo o amor é uma coisa.

Por isso, deixei de falar de amor por aí. Achei melhor. Acho, não tenho certeza. Evito falar de coisas, que aquela coisa ali é bela, ou que eu adorei determinada coisa. Não gosto de coisas. Elas não tem forma, ninguém sabe muito bem o que é, nem para que servem.

Quando alguém quer algo e não sabe o nome, diz: “ah, pega aquela coisa ali em cima pra mim?”. Não quero ter que pegar o amor ali em cima, até porque não estou vendo onde ele está. Quando eu preciso comprar algo e não sei o nome, tento explicar. Fico tentando definir a coisa, dando detalhes, mas ninguém entende muito bem o que é, e tenta me dar algo semelhante. Não sei se há algo parecido com o amor, mas se ele é uma coisa, é só uma coisa.

Já pedi para pessoas desconhecidas pegarem coisas pra mim. Gente que nunca vi. Não quero gente pegando o amor, ou essa coisa. Se meteu a mão na coisa, eu não sei que tipo de coisa pode ser, e talvez estejam metendo a mão no amor.

E é tanta coisa dentro da cabeça, tanta coisa dentro da gente, que não sei definir quantas coisas eu sinto ao mesmo tempo. Por isso não digo nada, porque são apenas coisas, ou apenas amor.

Quero as coisas muito bem determinadas, pra eu ter certeza do tipo de coisa que quero, e voltar a falar das coisas que sinto por aí.