Lembro-me que nunca fui bom em escolhas. Na escola eu escolhia meu caderno pela capa, mas odiava as folhas pautadas em azul, pois sempre gostei de folhas pautadas em preto. Logo, eu tinha que comprar um novo caderno, com folhas pautadas do jeito que eu gosto, e fazer uma montagem com fotos de revista, colando com cola bastão. Depois era só finalizar com papel contact, e tava lindo, mas não do jeito que eu queria, com a capa pronta do desenho da moda e as benditas folhas pautadas em preto.

Foi aí que eu descobri que nunca fui bom em escolhas. Por mais que eu ficasse horas decidindo, sempre saia alguma coisa errada. Nunca soube escolher lugar na escola. Sempre sentava na frente e era odiado apenas por este fato. No fim do ano eu já tinha virado monitor da sala e orador da turma, quando na verdade eu só queria um coleguinha pra brigar por ter tomado o meu Toddynho.

Nunca soube escolher amigos. Já andei por anos com as meninas de óculos fundo de garrafa, saia comprida e rabo de cavalo, mas o papo sobre ditongos e as discussões sobre Baskhara nunca foram interessantes pra mim. Eu gostava do grupo dos encrenqueiros e populares, e assim sendo, um dia fiz parte da turma. No fim, eu só me envolvi em confusões que não eram minhas, como xingar a mãe da professora e empurrar um grupo de CDFs da escada.

Nunca soube fazer escolhas, mas aprendi a me conformar com as erradas.

Vou morrer sem saber fazer escolhas, mas pelo menos aprendi a queimar meus cadernos antigos, a empurrar a carteira pro meio da sala e esnobar os encrenqueiros sem perspectiva de vida.