Como quem acorda para vencer, acordo para que não vença o meu prazo de validade. E para que isso não ocorra, tomo um banho seco, porque não vejo mais graça em fazer desenhos fofos com nomes especiais no espelho embaçado. O café da manhã é cinza. Café com leite aguado. Torradas levemente queimadas com margarina barata com sal, porque a vida é sem gosto e a sem sal só vai piorar as coisas. E a gente levanta e sai por aí, com mil motivos para dar certo, mas com um gostinho insosso de “empurrar com a barriga” na boca.

A locomoção é monótona. Não me importo se o transporte está cheio ou vazio, pois sempre me parece que está cheio de gente vazia. Não há assento preferencial para pessoas cansadas da vida, nem para deficientes de atenção. Por fim, é só pedir licença (pronunciando apenas “cença”) e descer, pela porta dos fundos, como alguém expulso de casa.

E ando pela rua olhando para aquelas pessoas com pressa e cabeça baixa, como crianças que fazem algo errado e estão indo “já para o quarto”. As calçadas defeituosas lembram muito os probleminhas que deixo passar porque dá para desviar pela rua. O problema é quando desvio pela rua, tropeço e caio de cara no chão, por causa de um buraco maior, por causa de um problema maior.

E chego ao destino, coloco a bolsa velha na mesa e começo a trabalhar: o futuro.

Já me acostumei a te encontrar nos meus sonhos. As vezes acho que só espero pelas noites porque sei que terei mais alguns momentos com você, entre pálpebras e pensamentos. A gente se vê pouco, mas se ama muito. É esse amor invisível que não gostaria de perder nunca.

Nunca deixe de me amar, ainda que você não esteja sentindo o amor. Não vai ser o cinema no fim de semana, os passeios de mãos dadas, a conchinha nas noites frias, o jantar feito a dois ou os beijos apaixonados que vão definir que estamos nos amando. O pensamento entre uma tarefa e outra, a mensagem sem sentido no meio do dia, o presente sem motivo, a ligação aleatória pela manhã, os planos para o próximo feriado e as surpresas apontam o quanto estamos com a cabeça no amor, ainda que não estejamos vivendo o sentimento.

Nunca deixe de entender que vamos ter que discutir muito para acertar o futuro, organizar a felicidade e encontrar a redenção. Vamos discutir por motivos de todos os tamanhos, brigar por chateações e sentir tristeza pela falta de resoluções instantâneas, mas todas as desavenças levam à compreensão. Hoje vai doer, amanhã vai ser melhor.

Só quero dormir. Só quero deitar nos pés da cama e acordar com a cabeça em você, em como a gente se gosta fora do horário comercial de um relacionamento. Vou pegar no sono, pegar você em um dos meus sonhos.

Preciso dizer adeus. Preciso dizer adeus aos finais de semana de uma pessoa só. Adeus aos lençóis bagunçados por um conhecido. Adeus ao delivery de pizza. Adeus aos abraços condicionais. Adeus ao dormir do mesmo lado da cama. Adeus ao comodismo. Adeus à paixão.