Eu não preciso me afirmar a todo momento, mas faço. Me pego constantemente em provação, criando provas mentais para disputar comigo mesmo, criando intrigas fictícias com pessoas que pouco me acrescentam e muito me incomodam.

Necessito de aprovação. Apesar desta ser dos outros para mim, o maior juiz é a minha mente. Ela precisa de tudo perfeito, construído, calculado, impecável. Se eu arquiteto algo, quem constrói é a mente. Ela encaixa as peças, coloca de pé e dá sentido, mas tira o meu. Sinto que nunca sou bom o suficiente para mim e consequentemente para os outros. É como se todas as mentes se reunissem no inconsciente coletivo para falar de mim. É presunção demais imaginar que o mundo está pensando sobre você, suas atitudes e comportamento. Infelizmente a minha mente é presunçosa.

O fruto desta conduta é pensar que todos aparentemente fortes estão contra mim. Na verdade, a força é apenas uma bengala para criar uma personalidade dura, mas no fundo sei que estes que teoricamente me julgam sofrem mais do que eu. O que os outros veem é a casca. O que eu vejo é a fragilidade do ser envolto por esse lacre. As pessoas que usam máscaras como artifício para seguir com a vida de forma mais natural são as mesmas que precisam dos que precisam se provar. O alicerce de uma alma frágil é a mente de um alguém que extrapola os próprios limites. E é exatamente por isso que os que pouco me acrescentam muito me incomodam, pois precisam do meu juiz mental para fortalecer o próprio desespero.

Naufrago em meu próprio juízo, afundo em minhas cobranças, me afogo no que os outros estão pensando. Não preciso me provar, mas me provo, com a esperança de ser o melhor para mim.

Me separa. Tira de mim o pior e coloca bem longe. Me deixe com os abraços, as risadas, o nexo, a inocência, o desejo, a verdade, a vontade. Deixa tudo aquilo que faz bem e junta de novo. Me junta de novo com você.

Me divide por categoria. Pensa em mim de A a Z e me divide em pedaços, colocando cada coisinha em um canto diferente, só para poder escolher o meu melhor a cada momento.

Me encontra. Me busca de perto, de longe, no esconde-esconde, no Swarm, no Find My iPhone, mas não me deixa fora da sua área. Me procura em cada cantinho, desde a salada que você odeia e lembra que eu gosto, até as meias coloridas que você está usando e que eu fiz você comprar. Me acha em qualquer lugar, mas não me deixe jogado por aí.

Me aceita. Me aceita com o lado bom e ruim. Me aceita dividido ou repleto de certezas. Me aceita de perto e me encontra. Me aceita do jeito que for, só não me nega, amor.

Os olhos perdidos
somados a boca cerrada
confessam os seus sentidos,
o entregam à alma errada.

Me perdoa pela leitura,
mas teu corpo fala
e minha mente lê.
Me tire dessa loucura,
me faça acreditar em você.