Nunca fomos parecidos e por isso terminamos. Acabou para a gente, mas não a gente. Sinto que as saudades modificaram a nossa personalidade, a ponto de nos tornarmos parecidos, coisa que nunca ocorreu antes.

Não tínhamos nada a ver. Você era de exatas e eu de humanas, e isso significa que você queria falar de números enquanto eu falava de experiências. Nosso estilo não era parecido. O nosso gosto musical não era compatível. Os nossos restaurantes prediletos eram opostos. Provavelmente criaram o ditado “os opostos se atraem” depois que nos viram de mãos dadas na rua. E a gente acabou. Acabou porque não era nada daquilo que nenhum dos dois queria.

Os anos passaram e, por uma mudança irônica do Facebook, você voltou a aparecer na minha timeline. O stalk veio até mim. Notei que o seu jeito de escrever ficou parecido com o meu. Notei pelo seu Spotify que agora você gosta de pop. Notei que agora você prefere cinema a balada. Notei que você adquiriu gosto por viagens. Notei que você ficou mais parecido comigo. Notei que isso é projeção de saudade.

Também passei a perceber que estou um pouco mais parecido com o que você idealizava. Deixei a barba crescer. Raspei o cabelo dos lados. Aprendi a gostar de cinema. Agora ouço indie. Tomei gosto por números. Estou apreciando comida japonesa. Mudei o meu estilo e renovei meu guarda roupa. Me olho no espelho e lembro de você.

A gente mudou pela gente. A gente mudou pela saudade da gente. E tomara que um dia a gente descubra isso.