Amor, nunca nos demos bem. Acredito que nossas desavenças tenham começado na infância. A vizinha que dizia que me amava na verdade só gostava de mim porque podia testar todas as suas maquiagens na minha cara. Ficava horrível, mas eu achava que era amor. Eu tinha seis anos e ela sete, não sabíamos nem o que significava sonhar, que dirá amar.

Daí em diante a nossa relação ficou ainda mais instável. Na escola, por mais que eu tentasse me envolver com alguém, a rejeição era de cem por cento. Gostava demais e não recebia nada em troca, a não ser indiferença. Foi aí que comecei a notar que eu e o amor não tínhamos nada a ver. Toda unanimidade é burra, por isso passei a acreditar que amar alguém por completo é ser imbecil. Deixei de me envolver, para deixar de amar.

Cresci. A vida colocou pessoas estranhas no meio do meu caminho, para que eu desse mais chances ao amor, sendo que o amor nunca me deu chances. Encontrei bocas pouco interessantes – assistindo filmes ruins ou em parques sem graça. Namorei por namorar, com gente irrelevante, que me satisfazia visualmente, psicologicamente ou sexualmente, mas sem ter amor em troca. Tive relacionamentos por comodismo. Nunca foi cômodo não consegui amar.

Hoje, após tantas desavenças, percebo que o que falta é o amor. Posso ter tido inúmeras relações, emoções boas e ruins, sentimentos diversos, semanas ou anos incríveis, mas falta algo. Falta algo que não sei explicar. Falta uma faísca, algo que aqueça, que mantenha, que dê liga, que encorpe, que envolva, que cause sorriso constante.

Sei que nunca fomos próximos, que tivemos nossas desavenças, mas percebo que foi pela minha resistência. Sempre quis tudo de mão beijada e você é fruto da superação. Para amar é preciso de coragem e sempre fui medroso. Eu mudei e estou disposto e te receber novamente. Volte para mim, amor.