Acabou, antes do Carnaval. Acabou a tempo do amor virar marchinha, cair no sambodromo e se transformar em bloco de rua. Acabou a tempo de encontramos outra pessoa vestida de pirata ou odalisca, de nos arriscarmos com máscaras venezianas.

A gente tinha tudo a ver, pena que o meu bloco tocava As Águas Vão Rolar e o seu Mamãe Eu Quero. Até queria a gente junto, vestindo o mesmo abadá, mas sou desses que prefere acompanhar o trio e você faz o tipo que assiste tudo pela TV.

Merecíamos esse e outros feriados prolongados, mas não aguentamos mais prolongar tantas mentiras, dores e desgostos. Nem todo Carnaval tem um fim, mas toda história de amor sim. Não é pessimismo, é que o amor dura o suficiente para se manter, e muitas vezes, quando se mantém, não há mais blocos, apenas fantasias. A gente fantasia o amor para viver em um eterno Carnaval.

Acabou, para nos acabarmos em outras pessoas. Acabou, para nos acabarmos numa quarta-feira, em cinzas.

Pare de me entregar desmontado, sabendo que eu devolvo pronto. Pare de me amar pela metade, eu amo por completo. Pare de forjar os sentimentos, isso não é uma disputada de quem gosta mais. Pare de me tentar e continue tentando.

O amor não é uma comanda de paciência onde você vai gastando a sua consumação até ela estourar.

Não cabe
na palma
da mão
de quem aplaude
da planta
o que não cabe
no coração
o da mente
o que mente
o que apoia
o que sente
e não cabe
dentro da
gente
tanto amor
tão descabível
e inacabado
que não tem cabimento.