Está tudo bem. As roupas jogadas no chão do quarto, a louça suja na pia e as dores aqui no meu peito. Essas três coisas, não necessariamente nessa ordem, sempre fizeram parte da nossa rotina, caso contrário, não seríamos o que somos hoje.

A falta de organização sempre imperou a sua vida. O chão do quarto está cheio de roupas que vão ficar lá para sempre, ou pelo menos até a próxima visita da empregada. A pia vai ficar lotada para sempre, ou pelo menos até alguém notar que não temos mais talheres, pratos e copos. A dor vai ficar em meu peito para sempre, ou pelo menos até alguém descobrir quem causou essa consternação, caso contrário, tudo estaria meio que organizado.

Estou aqui pela mudança, apostando em você com o fervor de quem joga na Mega-Sena acumulada. Não quero a quadra, nem a quina, quero a sena. Não entrei em bolão algum, pois quero ganhar sozinho e gastar o prêmio comigo. Vou vencer e o quarto vai ficar arrumado, a pia limpa e meu peito em enlevo, caso contrário, vou ter que aceitar que perdi o jogo, o tempo e você.

Sendo franco, o que mais me chateia não é a roupa ou a louça, é o meu peito. As roupas sempre guardo, a louça sempre lavo, mas a dor nunca passa. Não há massagem, Gelol ou chá que façam esse incomodo aqui dentro sumir. Eu suspeito que o problema seja físico e psicológico, não meu, mas seu. Essa dor deve ser por todas as conversas que não tivemos, por tudo aquilo que deixei passar e principalmente pela transformação que nunca ocorreu, caso contrário, eu estaria feliz, sem sentir mais nada que me deixe mal.

Vai passar. A roupa, a água na louça. A dor vou levar, e se der tudo certo, eu volto. Se ela sumir, eu volto. Se parar de latejar, eu volto. Se nunca mais doer, eu volto. Caso contrário, a gente foi só um caso ao contrário.

As pessoas mais interessantes que eu conheço são audaciosas. Largam o trabalho quando não estão felizes, mudam de área, começam um negócio ou vão fazer qualquer coisa para ganhar menos, mas ter mais vida. Essas pessoas não seguem a rotina, criam a própria. Acordam cedo para cuidar do corpo e dormem o suficiente para cuidar da mente. Abraçam oportunidades únicas e não pensam duas vezes antes de arriscar. São precipitadas, mas a precipitação traz as melhores lições e histórias.

Pessoas interessantes se divertem mais. Não tem medo de descontrair com gente que nunca viram nada vida, muito menos do julgamento por uma piada ruim. Saem sozinhas ou acompanhadas, fazem amizades de uma noite só e dançam com desconhecidos como se fossem os melhores amigos do mundo. Não tem receio de elogiar um estranho, de sorrir para alguém sem necessariamente flertar ou de falar que o dente de um amigo está sujo. Elas descobrem felicidade onde alguns encontram desprezo.

As pessoas mais interessantes que eu conheço são ousadas. Não se contentam com pouco ou se deixam levar por besteiras. Não esperam, realizam. Se der vontade de viajar sem ter nada planejado, o único plano é fazer a mala e cair na estrada. Não se preocupam com reserva de hotel, com o que vão comer ou como vão chegar. As pessoas mais interessantes que conheço não tem medo do amanhã, elas vivem o agora.

Uma pessoa interessante não liga para o julgamento dos outros. Fazem, por elas, o que ninguém jamais se propôs a fazer. Erram, pois sabem que vão aprender. Sofrem, pois sabem que vão sorrir. Sonham, pois sabem que vão realizar. As pessoas mais interessantes que eu conheço são apaixonadas pela própria vida.

Tire um dia para acordar mais cedo e ver o sol nascer. Ou melhor, não durma e nasça com ele. Tire uma sexta para viajar sem ter nada planejado, somente malas e a vontade de ser feliz na bagagem. Tire o peso do seu dia almoçando em um lugar diferente, fazendo um happy hour de segunda ou tomando o seu drink favorito sem motivo. Tire uma hora para dar risadas de coisas bobas no meio de um momento tenso. Tire cinco minutos para fumar, mesmo que você abomine a nicotina e não vá fumar de verdade, só pelo prazer de parar e respirar. Tire dinheiro da carteira e faça uma massagem rápida para relaxar. Tire um tempo para ouvir música alta, para gritar numa rua deserta ou para qualquer outra forma de extravasar. Tire essa necessidade de se regrar, de se manter, de se bastar. Tire de você essa ideia de que todos os dias tem que ser iguais.