Vai doer. Cada vez que você se lembrar de quanto se magoou ou que feriu alguém, vai doer cada centímetro do seu peito, da sua cabeça e da sua integridade. Se sabia que era errado, por que o fez?

A impulsividade e o bom senso deveriam andar juntos, mas acho que eles não se gostam. Quem adora a impulsividade é a dúvida, a angústia e a ansiedade. As três dominam a mente e não há o que fazer a não ser agir sem pensar nas consequências. Estas, muitas vezes não são físicas, são psicológicas. Sofrer por algo que foi feito é pior do que ter feito.

Se a cabeça fosse domável, não existiria a culpa. Todos seríamos psicopatas, prontos para o egoísmo e apatia. Mas, dentro do que chamam de normalidade, nos pautamos no passado para sentir o presente e prospectar o futuro. Nossas escolhas não definem quem somos, mas quem seremos. Quando você erra por impulso, é apenas uma forma de dizer ao acometimento que ainda não sabe quem quer ser.

Conviva com o desgosto ou liberte-se dele sendo honesto consigo mesmo. Você não vai se livrar da dor da culpa, mas vai aprender a conviver com ela.

Inveja? Deus que me livre! Inveja é coisa de gente que não consegue ser melhor do que esse cara, né? E, diga-se de passagem, isso aí que ele faz todo mundo sabe fazer. Eu não tenho inveja dele e nem de ninguém. Eu sei que sou bom e nem preciso fazer as coisas do jeito que ele faz. Aliás, se eu fizesse o que ele faz eu arrasaria, pois se ele é bom, eu sou incrível. Odeio falsa modéstia e por isso falo mesmo. Sou muito bom em tudo em que me dedico, por isso nem me dedico muito, pois sei que o meu o meu bom é o que ele acha excelente e o bom dele é uma merda. Eu me contento. Sei meu lugar e não fico querendo aparecer que nem esse aí. Você sabe que tudo isso é carência, não sabe? Essa gente muito aparecida, que quer chamar atenção toda hora é coisa de quem não tem amigos, não tem quem goste, não tem nada. Eu estou ótimo aqui no meu canto. Todo mundo me ama e não precisam ficar me provando, falando sobre. Nem gosto. Odeio gente que quer chamar atenção. Quem quer, é. Quem é, não precisa ser. Deixa ele lá, sendo ridículo. Vou continuar aqui, sendo falso.

Me ensinaram que eu nunca poderia pecar. Frequentei a igreja, fiz catequese e sempre ficou claro que o pecado é o inimigo de quem busca a plenitude. Mas nunca me ensinaram que para aprender, preciso errar. O pecado precisa arder no fundo da alma, no centro do peito, no meio da carne para que eu saiba o quão ruim aquilo é para a minha vida ou a dos outros. Nunca houve uma palavra da liturgia que me dissesse que os erros são caros e que muitas vezes você não vai ter dinheiro para pagar, então o pecado vai se tornar um carnê interminável que te pune toda vez que você lembra que ainda deve. Nenhum Espírito Santo desceu para dizer que todos os pecados que já cometi tornariam-se tormenta, converteriam-se ao conformismo até chegar a redenção. Aprendi, sozinho, que pecar é a busca da perfeição na imperfeição do erro.