Eu não preciso de óculos para decifrar as letras miúdas que encontram-se em seu rodapé. Consigo descobrir o que significa cada palavrinha, cada vogal e consoante perdida entre um sorriso e uma bronca. Consigo saber exatamente o que você deseja só de te olhar, sem precisar te abrir.

As suas entrelinhas são um prazer para a minha leitura. Através delas descubro por quais caminhos seguir, o que te aflige, como podemos caminhar para a felicidade. Você é o prefácio da minha vida. Por mais intangível que seja um sentimento ou uma emoção, consigo descobrir através do glossário que se esconde em seus olhos.

E cada vez que passamos por uma livraria, me pergunto: por que comprar um livro se eu posso te ler?

Não sei como ter cem por cento de você, mas nunca soube como ter cem por cento de mim.

Acho que é esse o problema. Cobro de você uma equação completa, sendo que a gente deveria somar para obter o resultado correto.

Passo mais tempo tentando descobrir a sua fórmula do que criar a nossa própria.

Sempre pensei que você fosse seno ou cosseno e eu tangente, mas a verdade somos um só, trigonometria.

A gente soma, sempre somou. Vou esquecer da sua conta e dar conta de mim.

A gente passa a vida buscando o melhor para a gente. O melhor da escola. O melhor amigo. O melhor da turma. O melhor filho. O melhor namorado. O melhor. Nos dedicamos a dar o máximo de nós e poucas vezes é porque queremos. O nosso melhor é o que os outros querem. É preciso estar disposto, com um sorriso estampado, cabelo arrumado e roupa sem amassos. É preciso efetuar as tarefas com maestria, ser competente, dar o exemplo. É preciso sobressair a si mesmo.

No meio do caminho a gente descobre que a gente nunca foi da gente. A gente é dos outros e esperto que é dono de si próprio. Quem sorri para dentro, sorri para as próprias escolhas. Os sem rumo estão mais encaminhados do que nós, presos no destino traçado por alguém que pouco nos interessa.

Continuo sendo o melhor, mas só por hoje. Ainda estou com preguiça de ser meu.