Ó, não sei bem por onde começar, mas acho que a gente devia viver junto. É, junto, do tipo pra sempre, sabe? Por que isso agora? Ah, acho que a gente junto dá mais certo do que separado. Junto não tem essa de horário pra chegar. A hora que chego é quando abro os olhos pela manhã e já tô do seu lado, e a maior distância entre a gente não é um ônibus e um metrô, é um abraço. Se a gente vivesse uma só vida, você não me ligaria pra perguntar se vou almoçar com você ou não, pois provavelmente já estaríamos indo juntos ao mercado comprar macarrão e queijo gorgonzola pra fazer o meu prato de praxe. Se a gente já estivesse pra sempre num mesmo lugar, não ia ter essa de ficar pensando em programação pra ocupar o tempo. Se quiséssemos ver um filme no computador deitados na cama, ir ao cinema, dar uma volta na Augusta ou tirar um daqueles cochilos no meio da tarde (que eu odeio), bastaria fazer. Se eu e você fossemos a gente, a expectativa do fim de semana se transformaria na do fim do dia, enquanto um espera o outro chegar do trabalho para ter um daqueles momentos que só precisam acabar com o amanhã. Se a nossa rotina fosse somente uma, não ia ter problema de você ficar na sala jogando videogame enquanto escrevo esse texto, porque teríamos tantos momentos a dois que ser um só por um momento valeria o esforço. Eu queria que a gente vivesse junto para encurtar a saudade, aumentar os momentos, reduzir a separação, prolongar o amor e não para sermos um só, porque já somos.

Não me espelho em idealizações amorosas vistas em livros ou filmes. A pessoa perfeita não mora em um castelo, nunca chegou perto de um cavalo e não é dona de um império. Ela está mais perto do que eu sou do que de um best-seller. Não há reinado que pague a compreensão, status que compense a empatia ou beleza que compense o bom-humor. A minha idealização de pessoa perfeita está no equilíbrio do que irá me satisfazer por uma vida, não por um dia.

Não quero viver tudo o que vejo, quero ver tudo o que sinto.

Meus pensamentos são divergentes. Desde o primeiro momento em que eles cruzam a mente, deixam de ser o que gostaria que fossem para ganhar vida própria. O pensamento, do meu agrado, escorre das vistas e um novo me invade, sem ao menos perguntar se pode entrar. Geralmente o segundo pensamento é vertiginoso, algo que já passou pelo córtex cerebral, mas fiz questão de removê-lo de lá. É um pensamento que faz com que todos os outros percam a força e crie uma nova forma de ver as situações, forma essa que não me agrada. As condições tornam-se duras e superá-las um desafio. Para sanar os pensamentos que me afligem, preciso de uma segunda mente, de alguém de fora. Preciso desvirtuar o pensamento que não me pertence para dar vasão a minha verdadeira visão.