Estão todos contra mim e tenho certeza de que estão tramando a minha derrocada. A confiança sumiu e vivo pela perseguição. Não confio nele, em você e quiçá em mim. Sei que estou sendo constantemente traído. Já revirei suas redes sociais, seu guarda-roupa, seu celular, sua sala, sua cabeça e ainda não consegui encontrar nada, mas tenho certeza que você é bom em brincar de esconde-esconde e deixou a verdade em algum lugar que ainda não sei qual é. Você e todo mundo está falando de mim, agora, pelas costas. Não preciso sentir minhas orelhas queimarem para  imaginar que estão rindo da forma que me visto, por estar fora do peso, por ter um penteado estranho ou por me expressar de forma efusiva. Não preciso entrar na mente de quem está a minha volta para sentir que estão zombando das minhas escolhas e que me acham mais um tonto deslumbrado. Sei de todos os preconceitos. Sei que estão jogando um monte de hipocrisias ao vento enquanto olham em meus olhos e soltam sorrisos amarelos. Mesmo que eu não esteja escutando, ouço os cochichos sobre meus relacionamentos ou a falta deles, querem que eu tenha alguém para apresentar, que a minha vida seja ridícula como a de todo mundo que vive o estereotipo da família perfeita. Estou no meio das suas conversas por SMS, Whatsapp e Facebook e a minha vontade é ir em todos os chats e digitar meu nome, só para ter certeza que estou sendo escorraçado por ser quem sou. Estou no meio das críticas, desavenças e não sou bom o suficiente para o meu trabalho. Há alguém melhor do que eu e a qualquer momento estarei na rua, substituído por algum incompetente que se vende melhor do que me vendi. Noto muito do mundo, mas não tenho como provar. As únicas provas estão em minha mente e não sei como tirá-las de lá. Não sei como tirar a paranoia daqui.

Namore com uma pessoa que não seja parecida com nenhuma de um texto tosco que você leu por aí. A pessoa ideal não tem que se parecer com uma regra bem escrita, tem que se parecer com você. Se envolva com alguém que tenha a ver com o que você espera, não com o que dizem que é perfeito. Namore com uma pessoa que goste de ser quem ela é. Se ela não viaja, não significa que ela não é aventureira ou surpreendente. Pode ser que ela só não tenha dinheiro ou não saiba programar uma viagem. As pessoas podem ser surpreendentes dando um abraço, não só de biquini em alguma praia no Caribe. Namore com uma pessoa que não lembre um clichê. As melhores coisas do mundo não são previsíveis ou sairiam de um filme. Namore com uma pessoa que se pareça com uma pessoa, não com mais um texto compartilhável da internet.

O meio é uma grande mentira. O equilíbrio é a busca, não o encontro. O Yin-yang é a metáfora da metade, do centro que desejamos pela eternidade. Não existe metade. Não aceitamos meias-verdades ou histórias inacabadas. A metade da laranja é uma metáfora sobre um ser inteiro. A metade, afinal, é só um inteiro. Não somos completos, mas vivemos para completar. Completamos tarefas, ciclos, sonhos e conversas. Quando não completamos, ao menos preenchemos. Estamos em todos os cantos, em todas as cabeças e em todos os lugares, cedendo um pouco de nós para preencher os outros. Somos completos complexos. Não sabemos o que queremos e desejamos mais do que um querer. A nossa complexidade é o nosso desequilíbrio, um paradoxo de nossas metades. Paradoxalmente, existimos pelo centro, de dentro para fora. E, metaforicamente, vivemos pelas beiradas, para completarmos um círculo, para sermos um só.