Estou me tornando o tipo de pessoa que não suporto. Aquele tipo de pessoa amargurada com a vida, que acredita que o universo conspira contra e que só sabe conversar sobre como tudo está ridículo ou horrível. Aquele tipo de pessoa que passa mais tempo sofrendo do que aproveitando, que está sempre cabisbaixa e de mau humor. Aquele tipo de pessoa que tem a cara fechada, olhos sem brilho e aparência de quem não dorme há noites. Estou tentando evitar ser assim, mas parece que é impossível. Cada vez que tento permanecer no meio da linha tênue entre alegria e tristeza, parece que a desgraça me puxa e a felicidade não consegue me alcançar. Passo mais tempo do meu dia tentando parecer positivo do que realmente sendo. O desanimo parece incontrolável e só me sinto confortável quando estou doente, pois a cama é uma das poucas que me entende. Estou me tornando o tipo de pessoa que as pessoas não gostam. Aquele tipo que tem as linhas da boca para baixo, como uma máscara de teatro grego. Estou sucumbindo e me tornando aquele tipo que ninguém quer almoçar junto. Aquele tipo de pessoa que você só convida para as festas por consideração, não por ser importante. Vou continuar batalhando para mudar esse cenário. Eu vou subir, mesmo que façam de tudo para me deixar aqui embaixo.

A consciência coletiva vai te matar. Ela e a sua capacidade de pensar que sabe de tudo, de todos. É impossível adivinhar o que acontece ao redor, mesmo se atentando ao ambiente. O que se adquire ao observar o que está acontecendo a sua volta é a falsa impressão do saber. Você acredita em onisciência? Como pode crer em um poder atribuído a deuses que sequer existem? A onisciência, como toda capacidade transcendental, é burra. Essa dádiva dá o poder de saber mais do que devia e sofrer o equivalente. A onisciência é impotente. Você pode imaginar o que acontece por fora, mas jamais entenderá o que se passa por dentro.

Foi drástica, tornou-se muda.
Não cortou a língua,
não tirou cordas vocais,
não aprendeu libras,
não fez mímicas:
guardou tudo.

Fez da vida uma gaveta e
escondeu segredos e
enrolou na tristeza e
deixou embaixo das calcinhas.

Dramática, foi feliz:
muda, a vida não muda.