O que eu precisava saber estava numa foto da qual eu não fazia parte. Tudo fluiu. Papos, desabafos, convites inaceitáveis para almoçar enquanto você estava na cidade num domingo à tarde. Mais convites inocentes. Convites.

Até que subimos ao altar. Casei três vezes: pela internet, no meio de uma festa e pelo Facebook. Só valeu a segunda vez, pois foi quando casamos de verdade, mesmo que timidamente, sentados falando sobre assuntos aleatórios enquanto a música alta e insuportável tocava. Mas valeu a pena. Valeu a pena pelas companhias (e por mim).

Os dias foram passando. Um sorvete, um espeto, uma viagem com músicas estranhas, mas com melodia bonita. Mais música, shows, pessoas, colegas, amigos, festas. Pedidos.

E, entre duas datas, só me encontro em uma. A data em que me encontrei ao me encontrar com você.

O momento que os dedos batem nas teclas e digitam palavras pensadas, construções de frases cuspidas, relatando aquilo que aconteceu na mente de quem conta e não de quem viveu. Mentiras deturpadas pelas digitais que não sabem escrever, são guiadas a um caminho sem rumo e sem nexo.

Roteiro de palavras que se encaixa e diz algo que não deveria ser dito, mas gostaria. Mente que ordena as mãos. Mãos que ordenam dedos. Dedos que obedecem. Não sabem o que dizer, mas dizem. São cobaias da imaginação.

Os meus dedos dizem mais do que minha mente (que diz), que não quer dizer nada, só quer que algo faça sentido, e não faz. O sentido está naquilo que não foi dito, está no que foi escrito, onde a mente se perdeu nas entrelinhas de uma mensagem desconexa.

A mensagem perdida entre as linhas é aquilo que um dedo vê. Mente subjetiva é mente cega.

Os dedos estão certos, a mente não.

Escolhi uma roupa nova. Não preciso levar quase nada do último ano, muito menos a cueca amarela que diz que vai me dar fortuna. O trabalho dá fortuna, um dia, sei lá. Ainda não deu, mas não posso deixá-lo numa gaveta com coisas antigas. As cuecas eu posso. Eu posso deixar junto com as cuecas os problemas do último ano, como as pessoas que eu deixei de falar por serem chatas, por não fazerem mais parte da minha vida. Também não preciso mais listar meus contatos por “Melhores Amigos”, “Da Balada” e “Conhecidos”. Vou listar por nome, sobrenome e telefone que sei de cor e salteado. O resto está na gaveta, com as roupas antigas.

Deixei as rixas de lado, pois juntavam muito ácaro. Tenho rinite, não posso com poeira. Por isso deixei também todas as discussões bestas junto com as rixas e a poeira. Não porque elas me dão rinite, mas porque elas me dão nos nervos. Rinite me deixa irritado, discussões também.

Tô levando algo do último ano: o Orgulho. Das coisas velhas, é algo que me cai bem. E veste bem em quase todas as ocasiões, menos em eventos de gala. Do contrário ele fica muito bem no dia-a-dia. Alguns gostam, outros detestam, mas me sinto confortável com ele.

Comprei roupa nova e cheguei com ela este ano. Foi para sujar mesmo. Quero que ela fique bem suja, tão suja que eu não consiga limpá-la. Mas que fique lotada de sujeira deste ano. As roupas dos anos anteriores estão sujas de coisas que eu não quero limpar, nem alvejar.