Ele tinha prometido que ser feliz. Prometeu a si próprio que nunca mais ficaria emburrado, de braços cruzados e cara feia, como uma criança em sua festa de aniversário, com chapéu colorido, língua de sogra e nenhum amiguinho por perto, pois todos estavam viajando com os pais por ser fim de ano e época de recesso nas empresas. Prometeu que nunca mais iria chorar, lacrimejar ou deixar os olhos marejados, como uma personagem de filme de comédia romântica fica quando descobre que o amor da sua vida na verdade tem outra e ela não tem certeza de que ele vai largar a atual para que eles possam viver juntos (mas vai, porque é assim que funciona em uma comédia romântica). Prometeu que nunca mais iria brigar, levantar a voz e ficar exaltado, como um mendigo bêbado que sai lutando contra o ar ou um inimigo imaginário por acreditar que suas teorias geradas pelo álcool estão certas (e ele nem sabe o que é uma teoria nessa hora). Prometeu que não ia tentar se matar, como quem acaba de ganhar na loteria e descobre que a mãe lavou todas as roupas, e o bilhete premiado estava dentro de um dos bolsos da calça jeans usada pelo menos três vezes na semana. Prometeu também que não ia matar ninguém, como quem planeja acabar com a raça do vizinho que todo santo dia faz chacotas com futebol, tempo, atraso e qualquer outra banalidade cotidiana, colocando arsênico em sua cerveja quente que está sempre no muro e o vizinho aprecia entre uma gracinha ou outra. Ele tinha prometido ser feliz, como se não soubesse que depender de promessas só faz com que a gente espere algo cair do céu, como se Deus fosse dar de cara no chão do quarto, sentar ao lado da sua cama, puxar a sua orelha por um ou outro pecado e finalmente te dar uma caixinha com felicidade.

Por fim, ele desfez a promessa. Decidiu ser feliz.