Fechei.
A boca, a porta, o tempo.
Optei por não falar,
para não ter que discutir.

Fechei
o mundo para você,
até que possa se abrir
para mim.

Nada vai voltar ao que um dia foi. Eu sei que todos os erros surgem para que um dia alcance a redenção, mas porque sou obrigado a te redimir? Meu papel pode até ser perdoar, mas esquecer está fora do meu alcance. A gente só esquece aquilo que nos convém. Eu mesmo esqueço dos livros que li há mais de um ano ou dos filmes dublados que assisti. Mas jamais esquecerei da dor causada por você, o peso do perdão que carrego diariamente não me deixa livre da lembrança. O sofrimento torna-se natural quando se é obrigado a conviver com ele. Se eu pudesse voltar ao passado, faria tudo diferente: jamais te perdoaria. Sem te perdoar, o sofrimento teria prazo de validade e eu te esqueceria em um próximo sorriso largo e abraço confortante. Sem te perdoar, eu perdoaria a minha alma que hoje vive para carregar a sua.

Todas as culpas que deixo com você também são minhas. Nos punimos constantemente, mas não quero me punir. Prefiro que você sofra, por nós, pelos atos desagradáveis de ambos. Conheço teus limites e estes são muito parecidos com os meus. Antes de saber o que posso, sei o que não devo, mas muitas vezes vou lá e faço. É como uma pequena realização pessoal ao ser transgressor. E neste momento, esqueço de quem sou, quem somos, e me torno especificamente aquilo que estou fazendo. É como se meu ato fosse uma pessoa e eu tivesse sido tomado por ela. Este ato, esta pessoa, me tomam e me levam para as vontades que fogem da minha índole e invadem os teus valores. Neste momento, a gente deixa de ser a gente para nos tornarmos mais um erro. Infelizmente, neste momento, deixo que o erro seja só teu, ainda que o errar seja completamente meu. Convivo melhor trabalhando a tua culpa e fugindo da minha, que nunca se desculpará.