Ok. Você estava certo, o tempo todo. Odeio dar o braço a torcer e torci para não precisar ser contrariado. Sei que teimosia não é uma dádiva e que me deleitei com este defeito. Uma hora eu erraria. Uma hora eu deixaria de ser reta para me tornar curva, para me perder nas rebarbas. A gente passa a vida inteira buscando o melhor, até que o bem se torna chato e não resta nada melhor do que se aventurar nos erros. E eu me aventurei. Mergulhei de cabeça, fiquei embaixo do mar do mal até faltar oxigênio e ter a certeza de que estava me afogando em desespero. Precisava sentir a água invadindo os meus pulmões e a culpa inundar o meu sistema nervoso. Eu precisava ir até o fundo para descobrir os meus limites, ou me limitar ao fim. Precisava regurgitar os vestígios do caminho desviado. E precisava de alguém pra me salvar. Alguém para fazer uma compressão cardíaca, para que eu pudesse sentir novamente que meu coração não foi totalmente perdido. Alguém que aquecesse novamente o meu corpo para que eu não morresse de hipotermia. Alguém que me desse motivos para estar no conforto da superfície. Alguém para me reanimar, para sempre. Desculpe pelos erros, pelo mar. Obrigado pelo oxigênio, por me amar.

Estou me tornando o tipo de pessoa que não suporto. Aquele tipo de pessoa amargurada com a vida, que acredita que o universo conspira contra e que só sabe conversar sobre como tudo está ridículo ou horrível. Aquele tipo de pessoa que passa mais tempo sofrendo do que aproveitando, que está sempre cabisbaixa e de mau humor. Aquele tipo de pessoa que tem a cara fechada, olhos sem brilho e aparência de quem não dorme há noites. Estou tentando evitar ser assim, mas parece que é impossível. Cada vez que tento permanecer no meio da linha tênue entre alegria e tristeza, parece que a desgraça me puxa e a felicidade não consegue me alcançar. Passo mais tempo do meu dia tentando parecer positivo do que realmente sendo. O desanimo parece incontrolável e só me sinto confortável quando estou doente, pois a cama é uma das poucas que me entende. Estou me tornando o tipo de pessoa que as pessoas não gostam. Aquele tipo que tem as linhas da boca para baixo, como uma máscara de teatro grego. Estou sucumbindo e me tornando aquele tipo que ninguém quer almoçar junto. Aquele tipo de pessoa que você só convida para as festas por consideração, não por ser importante. Vou continuar batalhando para mudar esse cenário. Eu vou subir, mesmo que façam de tudo para me deixar aqui embaixo.

Estou tentando enganar a minha mente. Diariamente, insisto em dizer à ela o que espero do futuro, mas ela responde negativamente. Ao tentar controlar as minhas emoções, entro em um fluxo interminável de sofrimento. Sou eu dizendo o que a minha mente deve fazer e ela gargalhando na minha cara através de emoções, como quem diz “eu sou a dona da situação”. Cada vez que digo “está tudo bem”, ela dá um jeito de encher o meu peito de angústia, meus olhos de lágrimas e a minha mandíbula de contrações involuntárias. Sou dono da minha mente e ela é dona de todas as reações do meu corpo, por isso estou em desvantagem. Quero dominá-la. Forço diariamente a minha cabeça para agir de acordo com o que preciso, não com o que quero. Preciso ser feliz. Preciso fazer a coisa certa. Preciso fazer da minha vida algo meu. Mas a minha mente é tenebrosa e traiçoeira. Ela dita o que preciso, e de acordo com ela necessito colocar uns pontos finais para ser feliz, parar de agradar a todos para fazer a coisa certa e esquecer o passado para ter a minha própria vida. Ela está errada. Eu sei que no fundo essa vontade de gritar vem de mim, não dela. No fundo, as emoções são minhas e um dia quem vai controlá-las serei eu. Ela está errada ao reger as minhas reações e achar que isso é estar certa. O dia em que me tornar senhor da minha mente poderei ser quem quiser. Por hora, sou apenas refém dos meus pensamentos.