Corri para o sucesso, tropecei na pressa e cai na mesmice. Acelerei o tempo do relógio e esqueci que ele não vai andar mais rápido do que o do destino. Pulei as etapas e estou voltando atrás para ver o que deixei em cada obstáculo.

Cheguei antes das perguntas e não sei o que fazer com as respostas. Cheguei no amanhã antes de mim e não sei o que fazer comigo.

Em nosso primeiro momentos juntos, acreditei que poderíamos ter uma história, dessas que a gente enche a boca para falar para todo mundo, sabendo que o outro vai sentir uma pontinha de inveja por tanta felicidade. Acreditei que seríamos um desses modelos, que quando alguém vai falar sobre casal exemplar, vai falar da gente. Acreditei que constituiríamos família, ainda que ela fosse composta por nós, um lhasa apso branco e um peixe que parece o Nemo. Acreditei que teríamos o nosso cantinho, ainda que fosse um apartamento de três cômodos alugado, mas que teria a nossa cara. Acreditei que poderíamos ser felizes e investi em nossa felicidade. Apostei tudo, joguei alto e perdi a disputa. Tivemos uma história, não de dar inveja, mas de dar dó.

Vi que tínhamos tudo a ver desde que me entendi por gente. Você também sabia, por isso aceitou a ideia de andarmos juntos desde o começo. Eramos totalmente diferentes das outras pessoas: a gente podia fazer o que quisesse. Dormíamos, cantávamos, brincávamos, saíamos, tudo de uma só vez. Não existia uma relação melhor do que a nossa.

Um dia, nas idas e vindas frenéticas de nossos desejos, comecei a perceber que não estávamos constantemente acompanhados de outras pessoas. Tá, conhecíamos muita gente diferente e sempre dávamos um jeito de incluí-las em nossos passeios, mas como não parávamos quietos, notei que já estavam saturadas. Ainda assim, insistíamos e sugamos tudo de todos os nossos amigos, fazendo com que eles fossem cada vez mais presentes em nossas vidas. Queríamos mais do que um dia, queríamos todos os dias.

Cansadas de tanta agitação, aos poucos, as pessoas foram desaparecendo. Cada vez mais os nossos passeios compulsivos foram diminuindo. Éramos tão amigos, não sei o que houve. Acho que no fundo não gostavam de mim, só de nós dois juntos. Só estavam interessadas em nosso relacionamento perfeito, e nos invejavam.

Depois que meus amigos sumiram, comecei a me sentir sozinho. Você já não me completava mais como no começo. Sinto que, desde o início, você plantou uma sementinha para que eu ficasse sedento por mais, que o muito era pouco, e que nada era bom o suficiente. Pois bem, você tem razão. Eu quero mais, e do jeito que está, já não me completa.

Desculpe, eu tentei, mas não posso mais te abraçar, Mundo.