Se ninguém leu algumas das páginas do teu livro, como você pode cobrar uma sinopse? Não pergunte sobre um capítulo que nunca foi aberto. Não questione sobre as folhas que ninguém tocou. Não fale sobre as citações que ninguém viu. Não indague sobre as orelhas que ninguém marcou. Se a história é só tua, guarde-a no meio dos demais livros da estante. Se o livro deve ser aberto, deixe-o exposto. Leia-o em voz alta. Marque as páginas que marcaram você.

A consciência coletiva vai te matar. Ela e a sua capacidade de pensar que sabe de tudo, de todos. É impossível adivinhar o que acontece ao redor, mesmo se atentando ao ambiente. O que se adquire ao observar o que está acontecendo a sua volta é a falsa impressão do saber. Você acredita em onisciência? Como pode crer em um poder atribuído a deuses que sequer existem? A onisciência, como toda capacidade transcendental, é burra. Essa dádiva dá o poder de saber mais do que devia e sofrer o equivalente. A onisciência é impotente. Você pode imaginar o que acontece por fora, mas jamais entenderá o que se passa por dentro.

Foi drástica, tornou-se muda.
Não cortou a língua,
não tirou cordas vocais,
não aprendeu libras,
não fez mímicas:
guardou tudo.

Fez da vida uma gaveta e
escondeu segredos e
enrolou na tristeza e
deixou embaixo das calcinhas.

Dramática, foi feliz:
muda, a vida não muda.