Todo relacionamento é uma troca, mas sinto que estou sendo defasado. Na escola do amor eu sou o professor, você é estudante e eu só queria me aposentar, mas sou jovem demais para isso. Deixar de dar aulas e quem sabe fazer uma pós-graduação, aprender mais sobre esse sentimento que enriquece a sua alma e me deixa cada vez mais atrasado em relação a ele. Estudar mais o comportamento das outras pessoas, sofrer com professores qualificados, ficar de DP e quem sabe tirar dez no trabalho de conclusão de curso.

Quero reclamar na diretoria, mas a educação está cada vez mais precária e bons professores não tem para onde ir a não ser para a sala de aula. Tenho que me contentar em abrir a cartilha todos os dias e ensinar o bê-á-bá de como ser alguém quando se está amando. Dizer que é preciso guardar os finais de semana para os amados, que não se pode flertar com as pessoas na rua e que traição é expulsão da escola na certa. Explicar que de vez em quando é preciso deixar o outro escolher qual prato preparar, um filme ou uma sorveteria é obrigatório, senão você é taxado de egoísta. Lecionar sobre romantismo – não o da escola literária – e de como palavras repletas de carinho e afeto são necessárias para passar de ano.

Acredito que devo parar com as aulas de história sobre nós dois. Parece que a sala fica vazia quando comento sobre as guerras que passamos, quais vencemos e quais perdemos. A geografia do que nos sustenta também já está complicada, pois passamos por um longo período de seca. Você não consegue entender a matemática da nossa relação e não compreende que a regra de três não é aplicada a triângulos amorosos. Só queria que você tivesse ciência de tudo o que sinto e conseguisse colocar em prática.

Preciso de férias, mudar de escola, encontrar novos alunos. Sempre me disseram que professor ganha mal pelo que faz e eu nunca quis acreditar. Cansei de ensinar sobre o amor para quem só sabe cabular aula.