Olha, desde ontem decidi ser feliz. Por que ontem? Ah, sei lá, porque a gente gosta demais de colocar metas, né? Dieta tem sempre que começar na segunda. Namoro só começa depois da aliança. Então decidi começar a ser feliz desde ontem, porque hoje já seria tarde demais. Já perdi tanta coisa esperando pelo amanhã. Perdi uns amigos que fui deixando passar e quando vi já não faziam mais parte da minha vida. Permiti que uns três ou quatro amores fossem embora por não ter falado “sim” na hora certa ou por não ter dado o primeiro passo. Decidi ser feliz desde ontem, graças a Deus.

E como ser feliz? Sei lá. Eu acho que ser feliz é como encontrar dinheiro nos bolsos todos os dias, só que no lugar do dinheiro a gente encontra a melhor festa que já foi na vida, uma viagem incrível ou uma conquista que nos orgulhamos. Felicidade é quando nós temos um motivo para apreciar algo durante um dia todo, mesmo quando esse motivo já acabou. Felicidade é tudo aquilo que a gente não vê, mas consegue tocar com a imaginação. Felicidade é quando você sorri com o corpo. Viu? Não sei explicar muito bem, mas acho que sei o que é.

Vou indo, tá? Já perdi muito tempo explicando como ser feliz e aproveitei pouco realmente sendo.

Não preciso dizer “eu te amo”. Eu meio que já faço isso quando o meu primeiro ato ao acordar é te mandar mensagem. Se eu acordei pensando em você, só pode ser amor. Digo “eu te amo” com outras palavras quando passo para te buscar no trabalho de surpresa, sugerindo ir ao seu restaurante favorito ou simplesmente te acompanhando até sua casa. Não digo “eu te amo”, mas digo o que você pode fazer numa situação chata em seu trabalho ou com a sua família, já que você não consegue pensar direito no melhor caminho a seguir. Ao invés de falar “eu te amo”, passo na sua casa todo dia à noite para falarmos exatamente o que já falamos no decorrer do dia, da semana, do mês ou do ano, pois sei que amar é redundância e estar apaixonado é pleonasmo. Substituo um “eu te amo” com beijos antes de abrir os olhos, dormir de conchinha, carinho na cabeça e pernas sobre pernas. Falo “eu te amo” quando sugiro uma viagem em cima da hora, ajuda para fazer compras e opiniões sobre roupas que você deve comprar ou não. Prefiro rir junto com você de uma piada boba e forçada feita após um longo silêncio do que um simples “eu te amo”. Ofereço ficar na cama contigo por mais duas horas, mesmo com fome, só pelo prazer de estar em sua companhia, no lugar de um “eu te amo”. Gosto mais de te ajudar quando você não sabe qual remédio tomar para a garganta ou quando precisa de companhia para o médico do que falar um “eu te amo” solto, sem graça.

Em um “eu te amo” o amor cabe uma única vez. Mas o amor cabe inúmeras vezes em atos de afeto. Troco um milhão de “eu te amo” por atitudes, porque eu amo você.

Tá calor. Tá quente demais, misericórdia! Se tá quente desse jeito dormindo sem roupa e sem cobertor, imagina só dormir de conchinha com alguém? Deus que me livre! Tá calor demais para namorar. Ficar beijando com esse calor, o corpo suado, que nojo. Não dá certo não. Ter que sair na rua de mãos dadas, sendo que elas estão molhadas, eca. Ter que tomar banho junto enquanto um passa calor do lado de fora do chuveiro e outro se refresca, olha isso, que egoísmo. Tá quente demais para ter alguém do lado, te apertando o tempo inteiro e dizendo um monte de frases bonitas, que dão um calorão só de pensar em tanto mimimi. O calor é tanto que não dá para aguentar conviver com mais alguém que não seja você mesmo.

Ainda bem que tô aqui, sozinho, comigo. Tá quente demais para ter algo além de um coração gelado.