“De boas intenções o inferno está cheio”, e por isso eu fui parar lá.

O fogo não é tão quente quanto esperamos. Se o “frio é psicológico”, o calor não passa de um estado de espírito. Esse estado de espírito incendeia a minha alma. Não arde, não queima, mas dá um mal estar.

O fogo do inferno me queimava enquanto eu pensava sobre as atitudes que não tomei. Aquele caminho sem volta de todo dia – a rotina – só fazia com que o purgatório fosse uma espécie de residência fixa. Eu não morava lá, mas era lá que eu me sentia bem.

Os demônios agem como pessoas comuns, até porque são. Talvez não na minha frente, mas sinto que pelas costas eles atuam como pequenos núcleos de uma grande base que movimenta as minhas escolhas. Eu tenho o poder de escolher. Eles têm o poder de influenciar.

Entre infernos e demônios está a minha sina, o meu dilema. O mal estar do calor, o bem estar do purgatório e os diabos moldando as situações criam o meu próprio inferno, da qual nenhum outro faz parte, nenhum pode entrar e eu não posso sair. O meu inferno pessoal está ligado diretamente aos meus desejos, as minhas palavras, a minha vontade. Não sei se quero sair do inferno enquanto ele está assim, superficialmente confortável.

Enquanto viver, não posso sair do inferno, pois “o inferno são os outros”.

Jogou-se no sofá,
cansada, coitada.
Tentou levantar,
caiu em si.

Pobre consciência,
pesada.

Palpável. O medo é palpável. Sem embargos, o medo penetra em algum pedaço do ser, causando uma sensação semelhante à dor, ao frio, ao fim. O nosso corpo torna-se hospedeiro do medo. Como em uma gripe, tentamos transmitir o vírus do medo sem que percebamos.

O medo nos traz à tona o nosso lado primitivo. Quando em risco, o medo faz com que atuemos instintivamente. Como um animal em risco, atacamos. Não pensamos em consequências, em hipóteses, em circunstâncias. Queremos nos salvar. Queremos o corpo sentindo o medo são e seguro dentro de nós. Buscamos a redenção nos impulsos que o medo traz e não percebemos que não há como se redimir de um instinto.

Ninguém se liberta do medo. Ele, enquanto hospedeiro, domina as vontades, determina as escolhas, rege o futuro. O medo é o seu senhor e você será para sempre um servo.