Durma junto. Acorde sozinho.
Ao dormir em uma cama diferente, não se cobre com as mesmas discussões. Aliás, discutir é coisa de quem divide o cobertor. Em uma cama estranha há troca de palavras aleatórias, gemidos, muito envolvimento carnal e pouco sentimental. Os problemas ficam embaixo das próprias cobertas, em casa.
Quem dorme com um estranho, estranho é. A não ser que haja o mínimo de relação, não se sabe a cor favorita, quais lugares visitou, se usa M ou G, se a mãe e o pai são vivos, se possui uma casa no campo, se já namorou com muitas pessoas, se é feliz. Dormir com um estranho é estranhar descobrir algo além de um corpo.
Em cada cabeceira, uma cabeça diferente. E talvez você jamais descubra o conteúdo de cada uma delas. Mas quem precisa entender a cabeça do outro quando este não te pertence? Quem dorme com um desconhecido dorme com o que a cabeça está pensando na hora, e muitas vezes ela está pensando o mesmo que você: descompromisso.
Não ter que dar explicações sobre lençóis e colchões é a parte descomplicada. Hoje o difícil é envolver-se em uma única cama e compartilhar, além dos travesseiros, histórias, momentos, problemas, alegrias e sofrimentos. Envolver-se entre edredons e conversas sobre o futuro, acordar diariamente ao lado da mesma pessoa, conviver com as mesmas qualidades, defeitos e administrar a mesma rotina é um desafio maior do que se aventurar entre dormitórios diferentes.
É mais fácil dormir cada dia em uma cama do que ter uma para dois. Difícil é ter uma cama para dois e não ter com quem dividi-la.