Vem de dentro. Chega de forma tímida, quase sem espaço, sufocada, mas feliz. Quando sai, já vem com um sorriso. Esteja feliz ou triste, vem com todos os dentes para forma, como se fosse uma pequena gargalhada. E ri. Ri por estar perto de quem está. Por mais que demore, uma hora deixa tudo leve, calmo e em seu devido lugar. Depois, ela retorna, para dentro de quem sente. Para dentro de quem quer sentir.

Sinceridade.

Durma junto. Acorde sozinho.

Ao dormir em uma cama diferente, não se cobre com as mesmas discussões. Aliás, discutir é coisa de quem divide o cobertor. Em uma cama estranha há troca de palavras aleatórias, gemidos, muito envolvimento carnal e pouco sentimental. Os problemas ficam embaixo das próprias cobertas, em casa.

Quem dorme com um estranho, estranho é. A não ser que haja o mínimo de relação, não se sabe a cor favorita, quais lugares visitou, se usa M ou G, se a mãe e o pai são vivos, se possui uma casa no campo, se já namorou com muitas pessoas, se é feliz. Dormir com um estranho é estranhar descobrir algo além de um corpo.

Em cada cabeceira, uma cabeça diferente. E talvez você jamais descubra o conteúdo de cada uma delas. Mas quem precisa entender a cabeça do outro quando este não te pertence? Quem dorme com um desconhecido dorme com o que a cabeça está pensando na hora, e muitas vezes ela está pensando o mesmo que você: descompromisso.

Não ter que dar explicações sobre lençóis e colchões é a parte descomplicada. Hoje o difícil é envolver-se em uma única cama e compartilhar, além dos travesseiros, histórias, momentos, problemas, alegrias e sofrimentos. Envolver-se entre edredons e conversas sobre o futuro, acordar diariamente ao lado da mesma pessoa, conviver com as mesmas qualidades, defeitos e administrar a mesma rotina é um desafio maior do que se aventurar entre dormitórios diferentes.

É mais fácil dormir cada dia em uma cama do que ter uma para dois. Difícil é ter uma cama para dois e não ter com quem dividi-la.

Já me enganei sobre muitas pessoas, sobre a forma que imaginavam fatos sem nunca sequer ter as questionado. Já me enganei sobre mim, pensando que era dono da verdade por saber colocar em prática algumas ideologias, que no final não funcionavam. Já me enganei sobre os outros e sobre mim, mas acredito que não me enganei sobre nós. Juntos não somos só especulações, juntos somos soluções.