A expectativa é inimiga da limitação. A busca pela perfeição, pela utopia e pelo irreal limitam que você enxergue as pequenas vitórias de cada dia. E, no final, ao encontrar com a idealização praticamente intangível, sobram apenas as frustrações causadas pelas feridas do caminho, maiores do que os desejos.

De todas as coisas que eu posso desejar, só desejo que a minha cabeça se mantenha vazia de preocupações e se ocupe com o nosso infinito particular. A cama, a preguiça, a gente. Sem rotina, sem roteiro, só vontade. Ocupamos nosso tempo com afeto e isso me basta. E quando o nosso submundo acaba, acaba comigo. Voltar à mesmice, aturar o dia a dia e me saturar com o usual só dá mais vontade da nossa utopia.

Me leve de volta, me leve ao vórtice.

Nunca tive grandes sonhos. Quando menor, sempre almejei coisas pequenas, como ter uma lancheira com garrafa térmica ou um lava rápido de brinquedo com espuma de verdade. Depois que cresci, os sonhos mudaram, mas nem tanto. Deixei de querer somente coisas materiais e passei a sonhar com experiências. Queria viajar de avião, sentar ao lado da janela e ficar vendo as nuvens passando o caminho todo. Queria conhecer um novo país, não entender o que estavam falando. Queria fazer amizade com as pessoas na mesa ao lado da minha no bar. Queria ser o primeiro a chegar na balada e o último a sair. Queria ficar mais de vinte quatro horas sem dormir. Queria que as pessoas gostassem do que eu escrevo. Queria ter coragem para chegar em alguém e roubar um beijo. Queria mais bebida no meu drink. Agora, enquanto continuo crescendo, os sonhos não perderam a força. Quero, mas quero menos. Quero tempo para mim. Quero dormir mais. Quero ficar mais ao lado de quem amo. Quero rir muito. Quero sair do trabalho sem rumo. Quero ter mais férias. Quero ser feliz.

Quero passar o resto da minha vida tendo sonhos acessíveis. Realizar não é difícil, difícil é não sonhar. Quem sonha e não concretiza é porque sonhou pouco.

Sonhe, até não ter mais com o que sonhar.