Sinto o gosto da nostalgia toda vez que suas atitudes são diferentes do que já foram um dia. Cada vez que algo muda, o mundo gira e a minha labirintite sentimental ataca.

Sinto falta de você passando lá em casa de madrugada, de me trocar no escuro para ninguém ver que estou arrumado as duas da manhã e de girar a chave da porta bem devagar, para que o barulho das chaves batendo no chaveiro não acordem minha família. Sinto falta de entrar no seu carro e ir parar em lugares desconhecidos, como aquela pracinha com cara de píer, com vista para a cidade, que eu jamais imaginaria existir. Depois ir para a sua casa, pedir pizza às seis da manhã de algum delivery 24h e finalmente dormir sem perceber no sofá, e depois acordar com aquele gosto de sono na boca, que nem a sua escova de dentes vai conseguir tirar.

Sinto falta de você reservando aquele flat vagabundo, com cheiro de mofo e naftalina, mas que se tornou o nosso subterfúgio urbano. Da gente deitado na cama, em lençóis de procedência duvidosa, mas que pouco importava. Dos milhares de elogios, promessas e planos que fazíamos ao som do chiado da TV de quatorze polegadas que devia ter a minha idade. De almoçar na praça de alimentação do shopping e depois ir ao cinema. De trocar mensagens sobre o final de semana enquanto voltávamos para nossas casas.

Sinto falta de quando você preparava o jantar enquanto eu ficava encostado no batente da porta conversando contigo e sentindo o cheiro do alho sendo frito na manteiga. Sinto falta da mesa posta, do vinho Cabernet Sauvignon pobrinho e sem marca de quinze reais, que me daria dor de cabeça, e do sexo pós-refeição.

Sinto falta do início, da novidade, do envolvimento. Sinto falta dos detalhes. Sinto falta de você.