Analisei bem e cheguei a uma conclusão: nascemos um para o outro. Não há nada que não encaixe. Minha mão é do tamanho da sua. Eu caibo certinho nos seus braços. Rimos da mesma coisa. Completamos as frases um do outro. É oficial, somos um só.

Você é o autocompletar do meu smartphone. O lençol de elástico do meu colchão. A chave da minha porta. A cortina da minha janela. O vaso da minha planta. A pasta dos meus documentos. A estante dos meus livros. A bolsa do meu dinheiro. O chuveiro do meu banho. O ar-condicionado do meu verão. A música do meu iPod. O motivo dos meus clichês.

Somos tão perfeitos um para o outro que até a perfeição sente inveja. Se alguém abrir um Michaelis e procurar unificar, vai encontrar a nossa foto. Se dividirem metade do nosso rosto e juntarem as duas partes, vamos parecer a mesma pessoa. Somos tão completos que até o marketing do Bradesco mudaria o slogan se nos conhecesse.

O único problema da nossa semelhança é que nos acostumamos a ela. Os erros são espelhados, as dores são repetidas e os pensamentos unificados. Somos tudo o que fizemos e agora seremos para sempre o que causamos. Penso que seria melhor se a gente não se encaixasse tanto. Sinto falta da imperfeição. Assim, eu ficaria com você, e não comigo.