E eu que pensei que nunca fosse morrer de amor,
descobri que estou morto há horas.

Desde que o meu olhar cruzou com o seu
a morte me encontrou entre os olhares
e me crucificou pelo amor.

A morte passou a foice entre a gente
e foi-se o momento onde podíamos ter nos conhecido, se amado, se dividido.

E eu que pensei que nunca amaria ninguém de longe, agora sofro com esse amor a sete palmos de distância.

Acabou, amor. E sequer tinha começado.
Não sei porque você retribuiu o olhar.
Esse cruzamento de olhares maldito me fez conhecer a morte
e a morte me impediu de te encontrar.

Ainda não sei se é melhor estar vivo sem saber quem é você
ou se foi melhor ter morrido e o amor ter cruzado comigo.

Nunca fomos parecidos e por isso terminamos. Acabou para a gente, mas não a gente. Sinto que as saudades modificaram a nossa personalidade, a ponto de nos tornarmos parecidos, coisa que nunca ocorreu antes.

Não tínhamos nada a ver. Você era de exatas e eu de humanas, e isso significa que você queria falar de números enquanto eu falava de experiências. Nosso estilo não era parecido. O nosso gosto musical não era compatível. Os nossos restaurantes prediletos eram opostos. Provavelmente criaram o ditado “os opostos se atraem” depois que nos viram de mãos dadas na rua. E a gente acabou. Acabou porque não era nada daquilo que nenhum dos dois queria.

Os anos passaram e, por uma mudança irônica do Facebook, você voltou a aparecer na minha timeline. O stalk veio até mim. Notei que o seu jeito de escrever ficou parecido com o meu. Notei pelo seu Spotify que agora você gosta de pop. Notei que agora você prefere cinema a balada. Notei que você adquiriu gosto por viagens. Notei que você ficou mais parecido comigo. Notei que isso é projeção de saudade.

Também passei a perceber que estou um pouco mais parecido com o que você idealizava. Deixei a barba crescer. Raspei o cabelo dos lados. Aprendi a gostar de cinema. Agora ouço indie. Tomei gosto por números. Estou apreciando comida japonesa. Mudei o meu estilo e renovei meu guarda roupa. Me olho no espelho e lembro de você.

A gente mudou pela gente. A gente mudou pela saudade da gente. E tomara que um dia a gente descubra isso.

O que eu precisava saber estava numa foto da qual eu não fazia parte. Tudo fluiu. Papos, desabafos, convites inaceitáveis para almoçar enquanto você estava na cidade num domingo à tarde. Mais convites inocentes. Convites.

Até que subimos ao altar. Casei três vezes: pela internet, no meio de uma festa e pelo Facebook. Só valeu a segunda vez, pois foi quando casamos de verdade, mesmo que timidamente, sentados falando sobre assuntos aleatórios enquanto a música alta e insuportável tocava. Mas valeu a pena. Valeu a pena pelas companhias (e por mim).

Os dias foram passando. Um sorvete, um espeto, uma viagem com músicas estranhas, mas com melodia bonita. Mais música, shows, pessoas, colegas, amigos, festas. Pedidos.

E, entre duas datas, só me encontro em uma. A data em que me encontrei ao me encontrar com você.