Não sei de onde vem, mas chega se espreitando pelas beiradas. Aos poucos vai comendo as bordas, mesmo que estejam quentes, e que se dane a língua. É melhor queimá-la do que congelá-la.

E a fogo vai se consumindo, vai me consumindo, vai nos consumindo, até que não sobra mais nada no prato.

Não sobra nada visível. São apenas sobras.
Sobras de saudade.

As fronteiras estão delimitadas neste território que eu não posso sair. Confesso que já tentei. Já escalei as muralhas, enganei os guardas, fiz greve de fome, bati com a caneca nos portões implorando por glória, mas sem sucesso.

É um estado capitalista, que vive o regime da oferta e da procura, e sou socialista, gostaria de tudo igual, para todo mundo.
Não sei se pequei para estar aqui dentro, mas estou. Aqui, cada pessoa concebe um tipo de sentimento. Alguns acreditam ser um lugar incomparável, e eu não vejo nada além da obrigação de viver neste espaço. Gostaria de ver o que está em minha frente, não essa neblina que encobre a minha visão.

Provavelmente há pastos verdes e flores coloridas, como já nos disseram. São diferentes concepções de uma só, e uma hora todos vão conceber algo aqui dentro. Estou inapto de gerar algo que não parte de mim.

O amor é um estado de espírito que eu não posso conceber.

Me deixei levar
por colchões e travesseiros
por pontos e ponteiros
e deixei de estar
comigo.

Me quero de volta.
Ah, que saudade de mim.