Como quem espera a sua vez de ser atendido no banco, eu esperava ansiosamente ouvir algumas palavras. Seria como estar numa bendita fila de banco e o gerente gritasse meu nome, me convidando para um caixa especial, onde eu pagaria minhas contas num minuto. Ou melhor, o gerente gritando o meu nome com balões, confetes e serpentinas, fazendo muita festa por eu ser o cliente de algum número bem sugestivo e irrelevante. E, ainda mais incrível, uma grande festa com bailarinas de circo e elefantes entrando no banco, dizendo que as minhas contas da vida inteira estariam quitadas, independente do valor.

Contudo, continuei na fila do banco aguardando uma senhora de incontáveis anos tentando digitar a senha do cartão, anotada em um guardanapo, ajudada por três funcionários ao mesmo tempo e mesmo assim indo embora sem sucesso, pois a senha do guardanapo era apenas um número de telefone.

E continuei na fila, aguardando as velhas palavras que eu adoraria ouvir, no momento certo. Estava disposto a quitar todas as suas contas, o seu débito comigo.

Aguardei tanto, mas tanto, que o banco fechou. Do lado de fora, eu ouvi o que eu sempre quis ouvir. Mas aí já não me importava. O banco havia fechado. O meu coração também.

Coitada, estava velha. As pessoas não se importavam mais com ela, pois diziam que não aguentaria mais. Nesses casos é melhor que vá, sabe. Assim, ela vai deixar de agonizar. Não vou ter mais que ficar dando banho e trocando a pobre coitada, que vai parar de sofrer. Pra ser sincero, quem vai deixar de sofrer serei eu. Seria um pouco de egoísmo se eu não assumisse que fiquei feliz por ela ter deixado essa vida. Quando era jovem, só sabia fazer as coisas do jeito dela, e olha, que jeito, viu? Era birrenta, não adiantava falar que a coisa era de outro jeito que ela ia lá e batia o pé, dizia que não era nada daquilo não. Mimada, isso é o que ela era. Se não mastigasse pra ela, a pobre nem comia. Outro dia a gente tava passeando no shopping e ela insistiu que queria uma roupa nova. Eu disse que não tinha dinheiro, mas ela não ligou. Choramingou tanto, até que comprei a roupa nova que ela queria. Na verdade, isso era o de menos. O que me incomodava mesmo é quando ela me obrigava a fazer coisas desagradáveis com outras pessoas. Eu achava aquilo inadmissível, mas cedia. Eu sempre cedo. Numa determinada ocasião ela falou pra eu deixar de falar com alguns amigos, dizendo que eles não eram pra mim, que eram falsos, e que as coisas que haviam me dito eram absurdas. Eu estava certo e eles não, ponto. Aí, mais uma vez, dei ouvidos a ela. Em outra situação, bem chata, diga-se de passagem, ela disse pra eu me desapegar de vez dessa história de amor. Disse que nunca tinha ouvido falar baboseira maior que essa, dizia que era um absurdo alguém dar vazão a uma coisa que não tem explicação, que ninguém sabe de onde veio, pra onde vai, e como essa pocilga de amor pode dominar as ações de uma pessoa. Não concordei. Brigamos feio. Ficamos sem olhar um para a cara do outro por um tempo.

A verdade é que nunca aceitei nenhuma dessas situações, por isso resolvi ser menos egoísta comigo, resolvi deixá-la ir dessa pra melhor.

Adeus, Razão.

Eu posso ser novo, mas o seu discurso não é. Ok, estou acostumado com as pessoas fazendo julgamentos de acordo com a idade, como se tempo fosse parâmetro de experiência. O tempo não define a maturidade, a intensidade dos acontecimentos sim. E se a minha vida pudesse se resumir em uma palavra, esta seria intensidade.

Guarde as suas falácias e esse discurso mais batido que lutador de UFC. Reconsidere os seus pensamentos e pare de ter idade e trajetória como parâmetro de sabedoria e experiência. Para descobrir se o outro é melhor, prove-se. Descubra os seus limites físicos e mentais. Exercite a sua empatia. Reconsidere.

O discurso e todas as suas percepções irão mudar. Os julgamentos serão coerentes e você será uma pessoa melhor. Longe do trivial e perto da consciência, o tempo deixará de ser sinônimo de sabedoria, pois a sua terá transcendido independentemente do tempo.