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Nunca acreditei em almas gêmeas. Como posso saber que o amor da minha vida está na fila do pão, sendo que eu só compro pão de forma? Como saber se essa pessoa está esperando por mim na pista de uma balada de rock, sendo que eu só saio para dançar pop? Como posso saber que a pessoa que vai mexer com os meus sentidos sentou ao meu lado no ônibus, sendo que eu tenho que descer no próximo? Jamais saberei.

Se a minha metade da laranja existe, ela foi desidratada para virar Tang e todo mundo já bebeu um pouco desse amor. Se a tampa da minha panela está por aí eu nunca vou saber, pois só como fora e nunca visito a cozinha dos restaurantes. Se o chinelo para o meu pé cansado existe, ele deve ser da coleção do verão passado da Havaianas e não vou encontrar mais para vender.

Já sei que nunca vou me deparar com uma alma gêmea, mas acredito em destinos cruzados. Um dia o seu destino vai cruzar com o meu e nascerá o que a gente chama de amor. Quando isso acontecer, te empresto a minha alma e você empresta a sua. Elas nunca serão gêmeas e eu me contento com almas apenas parecidas. Nunca gostei de Gêmeos, prefiro ser de Libra.

Todo relacionamento é uma troca, mas sinto que estou sendo defasado. Na escola do amor eu sou o professor, você é estudante e eu só queria me aposentar, mas sou jovem demais para isso. Deixar de dar aulas e quem sabe fazer uma pós-graduação, aprender mais sobre esse sentimento que enriquece a sua alma e me deixa cada vez mais atrasado em relação a ele. Estudar mais o comportamento das outras pessoas, sofrer com professores qualificados, ficar de DP e quem sabe tirar dez no trabalho de conclusão de curso.

Quero reclamar na diretoria, mas a educação está cada vez mais precária e bons professores não tem para onde ir a não ser para a sala de aula. Tenho que me contentar em abrir a cartilha todos os dias e ensinar o bê-á-bá de como ser alguém quando se está amando. Dizer que é preciso guardar os finais de semana para os amados, que não se pode flertar com as pessoas na rua e que traição é expulsão da escola na certa. Explicar que de vez em quando é preciso deixar o outro escolher qual prato preparar, um filme ou uma sorveteria é obrigatório, senão você é taxado de egoísta. Lecionar sobre romantismo – não o da escola literária – e de como palavras repletas de carinho e afeto são necessárias para passar de ano.

Acredito que devo parar com as aulas de história sobre nós dois. Parece que a sala fica vazia quando comento sobre as guerras que passamos, quais vencemos e quais perdemos. A geografia do que nos sustenta também já está complicada, pois passamos por um longo período de seca. Você não consegue entender a matemática da nossa relação e não compreende que a regra de três não é aplicada a triângulos amorosos. Só queria que você tivesse ciência de tudo o que sinto e conseguisse colocar em prática.

Preciso de férias, mudar de escola, encontrar novos alunos. Sempre me disseram que professor ganha mal pelo que faz e eu nunca quis acreditar. Cansei de ensinar sobre o amor para quem só sabe cabular aula.

Não deixe. Não deixe para trás tantas promessas, ainda que elas já não façam mais tanto sentido para você. Não deixe de sorrir, ainda que os motivos para manter os dentes expostos não sejam tantos. Não deixe de acreditar, ainda que a mentira tenha dominado a maior parte das pessoas e saber quem é real é praticamente impossível. Não deixe a sua personalidade, ainda que o mundo te coíba a fingir para ser aceito. Não deixe de sonhar, ainda que dormir sem ter pesadelos não seja uma tarefa fácil. Não deixe de dizer o que sente, ainda que as outras pessoas não estejam prontas para ouvir. Não deixe de ser sincero, ainda que o mundo prefira a hipocrisia. Não deixe de você. Não deixe.