Estou tentando enganar a minha mente. Diariamente, insisto em dizer à ela o que espero do futuro, mas ela responde negativamente. Ao tentar controlar as minhas emoções, entro em um fluxo interminável de sofrimento. Sou eu dizendo o que a minha mente deve fazer e ela gargalhando na minha cara através de emoções, como quem diz “eu sou a dona da situação”. Cada vez que digo “está tudo bem”, ela dá um jeito de encher o meu peito de angústia, meus olhos de lágrimas e a minha mandíbula de contrações involuntárias. Sou dono da minha mente e ela é dona de todas as reações do meu corpo, por isso estou em desvantagem. Quero dominá-la. Forço diariamente a minha cabeça para agir de acordo com o que preciso, não com o que quero. Preciso ser feliz. Preciso fazer a coisa certa. Preciso fazer da minha vida algo meu. Mas a minha mente é tenebrosa e traiçoeira. Ela dita o que preciso, e de acordo com ela necessito colocar uns pontos finais para ser feliz, parar de agradar a todos para fazer a coisa certa e esquecer o passado para ter a minha própria vida. Ela está errada. Eu sei que no fundo essa vontade de gritar vem de mim, não dela. No fundo, as emoções são minhas e um dia quem vai controlá-las serei eu. Ela está errada ao reger as minhas reações e achar que isso é estar certa. O dia em que me tornar senhor da minha mente poderei ser quem quiser. Por hora, sou apenas refém dos meus pensamentos.

Chegou o dia que vou te ver.
Chegou o dia que vamos ficar juntos.
Chegou o dia que a gente vai dormir de conchinha.
Chegou o dia que aceitei o amor.
Chegou o dia que vamos dividir o mesmo teto.
Chegou o dia que caímos na rotina.
Chegou o dia que cansamos das nossas diferenças.
Chegou o dia que brigamos.
Chegou o dia que enjoamos de nós dois.
Chegou o dia que nos machucamos.
Chegou o dia que trocamos o amor por sofrimento.
Chegou o dia que terminamos.
Chegou o dia.

Não é de todo o mal. Podíamos não ter nada, mas temos um ao outro, temos cada um o seu comodismo. É cômodo ter uma companhia, ter abraços, ter carinho, ter um amigo, ter um lar, ter. Este é o meu cômodo favorito, embora o meu parâmetro de estar acomodado seja o pouco que vivo, as pessoas que me cercam. E é assim, a gente quando se acomoda, se acomoda a um só. Uma família, um melhor amigo, um amor. Somos eternos acomodados, nos amparamos socialmente para amparar a mente, por obrigação. Eu gostaria de ter novos parâmetros para tudo e descobrir como eu me acomodaria na vida de outras pessoas, sendo outra pessoa. Queria ver que está tudo bem deste lado e que do lado de lá o comodismo é muito mais chato. Ver que meu comodismo é muito mais gostoso e que viveria nele para sempre, ou que me acomodaria facilmente a um novo trabalho, a uma nova rotina, a uma nova família, a um novo melhor amigo, a um novo amor. Honestamente, não sei, me acomodei, mas adoraria descobrir. Por favor, me tire daqui, me leve para o próximo cômodo.