Das mais simples ações,
aquela que espero, não recebo.
E a mais absurda das orações,
ouço, calo, sinto e concebo.

Na vida existem condições,
as quais nem se quer percebo.
Algumas realizações,
não saem do placebo.

Encontro certa insensatez
quando busco alguma verdade.
Sinto na pele a rispidez,

ela não faz parte da minha realidade.
Não sobressai a minha timidez,
Não me deixa à vontade.

Sinto o gosto da nostalgia toda vez que suas atitudes são diferentes do que já foram um dia. Cada vez que algo muda, o mundo gira e a minha labirintite sentimental ataca.

Sinto falta de você passando lá em casa de madrugada, de me trocar no escuro para ninguém ver que estou arrumado as duas da manhã e de girar a chave da porta bem devagar, para que o barulho das chaves batendo no chaveiro não acordem minha família. Sinto falta de entrar no seu carro e ir parar em lugares desconhecidos, como aquela pracinha com cara de píer, com vista para a cidade, que eu jamais imaginaria existir. Depois ir para a sua casa, pedir pizza às seis da manhã de algum delivery 24h e finalmente dormir sem perceber no sofá, e depois acordar com aquele gosto de sono na boca, que nem a sua escova de dentes vai conseguir tirar.

Sinto falta de você reservando aquele flat vagabundo, com cheiro de mofo e naftalina, mas que se tornou o nosso subterfúgio urbano. Da gente deitado na cama, em lençóis de procedência duvidosa, mas que pouco importava. Dos milhares de elogios, promessas e planos que fazíamos ao som do chiado da TV de quatorze polegadas que devia ter a minha idade. De almoçar na praça de alimentação do shopping e depois ir ao cinema. De trocar mensagens sobre o final de semana enquanto voltávamos para nossas casas.

Sinto falta de quando você preparava o jantar enquanto eu ficava encostado no batente da porta conversando contigo e sentindo o cheiro do alho sendo frito na manteiga. Sinto falta da mesa posta, do vinho Cabernet Sauvignon pobrinho e sem marca de quinze reais, que me daria dor de cabeça, e do sexo pós-refeição.

Sinto falta do início, da novidade, do envolvimento. Sinto falta dos detalhes. Sinto falta de você.

Ele tinha prometido que ser feliz. Prometeu a si próprio que nunca mais ficaria emburrado, de braços cruzados e cara feia, como uma criança em sua festa de aniversário, com chapéu colorido, língua de sogra e nenhum amiguinho por perto, pois todos estavam viajando com os pais por ser fim de ano e época de recesso nas empresas. Prometeu que nunca mais iria chorar, lacrimejar ou deixar os olhos marejados, como uma personagem de filme de comédia romântica fica quando descobre que o amor da sua vida na verdade tem outra e ela não tem certeza de que ele vai largar a atual para que eles possam viver juntos (mas vai, porque é assim que funciona em uma comédia romântica). Prometeu que nunca mais iria brigar, levantar a voz e ficar exaltado, como um mendigo bêbado que sai lutando contra o ar ou um inimigo imaginário por acreditar que suas teorias geradas pelo álcool estão certas (e ele nem sabe o que é uma teoria nessa hora). Prometeu que não ia tentar se matar, como quem acaba de ganhar na loteria e descobre que a mãe lavou todas as roupas, e o bilhete premiado estava dentro de um dos bolsos da calça jeans usada pelo menos três vezes na semana. Prometeu também que não ia matar ninguém, como quem planeja acabar com a raça do vizinho que todo santo dia faz chacotas com futebol, tempo, atraso e qualquer outra banalidade cotidiana, colocando arsênico em sua cerveja quente que está sempre no muro e o vizinho aprecia entre uma gracinha ou outra. Ele tinha prometido ser feliz, como se não soubesse que depender de promessas só faz com que a gente espere algo cair do céu, como se Deus fosse dar de cara no chão do quarto, sentar ao lado da sua cama, puxar a sua orelha por um ou outro pecado e finalmente te dar uma caixinha com felicidade.

Por fim, ele desfez a promessa. Decidiu ser feliz.