Desde o segundo em que sua imagem atravessa minhas vistas, te olho de relance, sem que perceba. Mas me engano, pois tenho certeza de que você também olha, de canto, para dentro da minha insegurança. Não sei, de fato, qual o seu tipo de interesse. De certo, e de longe, não é o mesmo que o meu. O meu é profundo, não pelo fato da sua beleza me afrontar, mas sim pelo jeito cativante com que você se move, gesticula e sorri.

Você é uma incógnita. Não sei se existe alguém que seja seu, se você quer alguém para você ou se o mundo é o seu alguém. Sei que nunca irá me confessar isso, você é subjetivo. Toda a sua sedução está atrelada ao fato de você não se revelar por completo. E embora eu não deva, me questiono constantemente quanto a nós dois. A nossa união jamais acontecerá. Eu não sou seu, pois não pertenço a ninguém. Você não é meu, pois quer ser meu ninguém.

Mexi em suas coisas
abri seu armário
revirei as gavetas
vasculhei sua mochila
e não encontrei nada
pois tudo o que busco
está em sua cabeça.

Se ninguém leu algumas das páginas do teu livro, como você pode cobrar uma sinopse? Não pergunte sobre um capítulo que nunca foi aberto. Não questione sobre as folhas que ninguém tocou. Não fale sobre as citações que ninguém viu. Não indague sobre as orelhas que ninguém marcou. Se a história é só tua, guarde-a no meio dos demais livros da estante. Se o livro deve ser aberto, deixe-o exposto. Leia-o em voz alta. Marque as páginas que marcaram você.