Como quem acorda para vencer, acordo para que não vença o meu prazo de validade. E para que isso não ocorra, tomo um banho seco, porque não vejo mais graça em fazer desenhos fofos com nomes especiais no espelho embaçado. O café da manhã é cinza. Café com leite aguado. Torradas levemente queimadas com margarina barata com sal, porque a vida é sem gosto e a sem sal só vai piorar as coisas. E a gente levanta e sai por aí, com mil motivos para dar certo, mas com um gostinho insosso de “empurrar com a barriga” na boca.

A locomoção é monótona. Não me importo se o transporte está cheio ou vazio, pois sempre me parece que está cheio de gente vazia. Não há assento preferencial para pessoas cansadas da vida, nem para deficientes de atenção. Por fim, é só pedir licença (pronunciando apenas “cença”) e descer, pela porta dos fundos, como alguém expulso de casa.

E ando pela rua olhando para aquelas pessoas com pressa e cabeça baixa, como crianças que fazem algo errado e estão indo “já para o quarto”. As calçadas defeituosas lembram muito os probleminhas que deixo passar porque dá para desviar pela rua. O problema é quando desvio pela rua, tropeço e caio de cara no chão, por causa de um buraco maior, por causa de um problema maior.

E chego ao destino, coloco a bolsa velha na mesa e começo a trabalhar: o futuro.

Tudo, desde o início, é sobre escolhas.

Embora pareça que nós estejamos definindo o futuro a partir delas, elas nos definem. Não sabemos para onde iremos, embora tenhamos certa noção, mas elas sabem. Cada escolha é um pequeno pedaço do destino, o qual não podemos controlar. E se pudéssemos ter controle, não saberíamos o que fazer, pois descobrir mais sobre o futuro é o nosso ponto fraco.

As decisões definem o amanhã. Tudo, desde este exato momento, é sobre escolhas.

Isso de não acabar
ainda vai acabar
com a gente.

Acaba logo,
para que eu possa
me acabar de
ser feliz.