O nosso fim foi sorte. Foi sorte que acabou antes de que a gente acabasse com o melhor de nós que construímos ao longo do tempo. Provavelmente eu não sobreviveria sem os seus fragmentos na minha personalidade, no meu modo de agir.

Tudo bem você ir, a gente vive pelas despedidas. Se não fosse o som do adeus saindo da sua boca, seria o som do adeus da morte. E eu prefiro mil vezes ver você me deixar do que saber que você não existe mais nessa vida.

A dor vai passar. Vai passar pois uma hora vamos entender que a nossa felicidade não dependia de ambos, mas só de nós. Vamos aprender a nos amar mais, ainda que a gente passe alguns momentos do dia pensando no amor que só o outro sabia oferecer.

Pode ir, para sempre.

Você pode dizer adeus à minha vida, mas jamais ao meu coração.

Escolhi uma roupa nova. Não preciso levar quase nada do último ano, muito menos a cueca amarela que diz que vai me dar fortuna. O trabalho dá fortuna, um dia, sei lá. Ainda não deu, mas não posso deixá-lo numa gaveta com coisas antigas. As cuecas eu posso. Eu posso deixar junto com as cuecas os problemas do último ano, como as pessoas que eu deixei de falar por serem chatas, por não fazerem mais parte da minha vida. Também não preciso mais listar meus contatos por “Melhores Amigos”, “Da Balada” e “Conhecidos”. Vou listar por nome, sobrenome e telefone que sei de cor e salteado. O resto está na gaveta, com as roupas antigas.

Deixei as rixas de lado, pois juntavam muito ácaro. Tenho rinite, não posso com poeira. Por isso deixei também todas as discussões bestas junto com as rixas e a poeira. Não porque elas me dão rinite, mas porque elas me dão nos nervos. Rinite me deixa irritado, discussões também.

Tô levando algo do último ano: o Orgulho. Das coisas velhas, é algo que me cai bem. E veste bem em quase todas as ocasiões, menos em eventos de gala. Do contrário ele fica muito bem no dia-a-dia. Alguns gostam, outros detestam, mas me sinto confortável com ele.

Comprei roupa nova e cheguei com ela este ano. Foi para sujar mesmo. Quero que ela fique bem suja, tão suja que eu não consiga limpá-la. Mas que fique lotada de sujeira deste ano. As roupas dos anos anteriores estão sujas de coisas que eu não quero limpar, nem alvejar.

Me esqueci. Talvez tenha sido na fila do caixa do supermercado, em uma loja de shopping ou na rodoviária. Aconteceu e nem percebi. A gente passa a vida toda tentando se lembrar de tudo, anotando na agenda do celular, amarrando fitinha vermelha no pulso e quando se dá conta, percebe que esqueceu da coisa mais importante: de si mesmo.

Passamos tanto tempo pensando em compromissos, no que tem que fazer em casa, no que tem que fazer para o outro, que nem percebemos que nos deixamos pra lá. Passamos despercebidos por nós mesmos. Esquecemos qual é a nossa cor e o nosso prato favorito, o que estiver no armário e no prato está ótimo. Esquecemos quais são os nossos sonhos, abraçando a primeira oportunidade fajuta que o destino nos entrega. Esquecemos que devemos amar, nos apaixonamos por qualquer um que abra os braços e escute as nossas reclamações. Esquecemos de cuidar da saúde, dos dentes, da pele, dos estudos, dos amigos, da família e de tudo o que isso representa em nossas vidas. Esquecemos de lembrar de nós mesmos.

Me esqueci e desde que me dei conta, não parei mais de me procurar. Não quero me redimir, só quero me encontrar e ter a oportunidade de fazer por mim o que jamais fiz. Me encontrar e me colocar em primeiro lugar. Me encontrar e ser feliz.