Vão dizer que foi o destino
por conta de eu começar a escrever textos na internet que te encontrei perdido entre uma foto e vinte comentários
e você não sabia direito quem você era e eu não sabia direito quem eu era
mas a gente sabia que a gente podia contar um com o outro
e a gente contava demais durante as horas dos sábados após às quatorze horas ou escondido após à meia noite
por culpa da conexão discada
por culpa minha ou sua de não lembrar de nada que foi dito
e que mesmo sem nada registrado nos HDs das lembranças a gente se lembre da importância de um pro outro há doze ou há dez ou há seis anos

Vão dizer que foi o destino
se eu contar que tenho alguns e-mails que você me enviou há nove anos falando que sentia a minha falta
perguntando por onde eu andava
que gostava de conversar comigo e que terminava dizendo que me amava
sem amor romântico
com amor fraterno
ou algum outro amor que ainda não tenha categoria

Vão dizer que foi o destino
quando a gente explicar que se viu há seis anos e que seis anos depois voltamos a nos ver
mais uma vez sem lembrar do que falamos
mas lembrando que eu registrei que você era mais bonito pessoalmente
e que você me achou bonito
e acabou por isso mesmo

Vão dizer que foi o destino
se eu disser que tem mensagens aleatórias nas minhas redes sociais de você falando de uma vaga de emprego para trabalhar com você
ou como estava sendo para mim morar sozinho
e que você também começou a morar sozinho
e como é mudar de cidade
ou como estou bonito

Vão dizer que foi o destino
no momento em que eu contar que te encontrei ao acaso no carnaval
e que dei um grito quando te vi e você me levantou bem alto
e me deu um selinho meio sem querer e disse que ia embora
e foi
e não te veria mais tão cedo

Vão dizer que foi o destino
quando souberem que a gente combinou de se encontrar no domingo
que você não tinha glitter e que eu dei um jeito nisso
que conversávamos sobre a vida entre um atalho e outro do bloco
que você me roubou um beijo no largo do Anhangabaú
que combinamos mentirinhas no largo do Paissandú
e daquele momento em diante não quisemos mais nos separar

Vão dizer que foi o destino
se eu contar que você comprou outra passagem para ficar mais um dia no carnaval
ou que fez frio no meio do verão
só porque você ia embora naquele dia
e que tocou música triste no bar quando o seu carro chegou
e nos despedimos com desejo de nos ver novamente
acreditando ser loucura
tudo e tanto
e quanto
em pouco tempo
buscando sentido nos sentimentos
distantes e próximos
com saudade de viver alguma coisa que ainda não havia sido vivida

Vão dizer que foi o destino
se eu disser que não parei mais de pensar em você naquele momento em diante
que pedi seu RG e comprei uma passagem para você vir me ver
e que fiz isso novamente na semana seguinte
e que faria de novo se eu sentisse mais falta do que já sinto de você quando não está por perto

Vão dizer que foi o destino
quando eu explicar que eu sei o prato que você vai pedir no restaurante
e no que você está pensando enquanto me pergunta algo
ou que a gente pensa igual e gostamos das mesmas coisas
e que conversamos por horas até cair no sono
e temos os mesmos sonhos
e quase as mesmas experiências

Vão dizer que foi o destino
porque se o universo fez com que a gente se encontrasse
e se reencontrasse
e nos descobríssemos
é porque a gente precisa da gente
e eu não vou contradizer

Eu, obrigado.
Obrigado por me aceitar. Ser aceito pelos outros é difícil. Pelo próprio egocentrismo é quase impossível. Este foi um ano de impossibilidades. Aprendi a aceitar os meus erros. Todos os lados da personalidades, os gostos, os fetiches, os desejos, os erros e os defeitos foram compreendidos. O meu melhor foi aceito, o meu pior foi respeitado. Decidi encarar o meu lado desgastado, feio e pouco nítido, para que amanhã ele se torne a minha fortaleza. Tornei todos os acertos e vitórias em aprendizados, agora os aplico em todos os âmbitos para ser uma pessoa melhor.

Eu, obrigado.
Sem te entender quase por completo, seria apenas mais um incompleto. Aprendi a me completar com os detalhes irrelevantes. Aprendi a me aceitar para me tornar interessante. Aprendi a ser como sou.

Abri minhas gavetas. O que estava escondido entre calças e camisetas não está mais. Tirei tudo dos bolsos, do meio das meias e das cuecas, mostrei o meu melhor e pior entre traças e naftalinas. Abri o armário para nunca mais fechar.

Aprendi que segredos não podem ser escondidos entre golas e botões. Por mais bem passada que esteja uma peça, o amassado estará sempre exposto.

Tirei dos cabides os meus medos e os doei a quem precisava. Roupa velha só ocupa espaço, medo também.

Remendei os erros dos melhores looks. Mudei o estilo por não caber na minha ideologia e meu modo de ver o mundo. Não tento usar botões que não se encaixam em quem eu sou. Não visto peças que ficam largas no meu infinito particular.

Aprendi a apreciar a moda do ser, não a que criam, mas a que desenhei para mim. Moda você segue, estilo você cria, personalidade você tem. Deixei de seguir as tendências para criar as minhas. Está na moda ser igual, estereotipado e fechado. Mas é mais estiloso ser o que se é.

As gavetas estão abertas. Vazias de autopreconceito e cheias de verdade. E tomara que nenhuma dessas roupas caiba mais. Eu fico muito mais bonito sem receios. O meu melhor look é estar nu.