Não sei de onde vem, mas chega se espreitando pelas beiradas. Aos poucos vai comendo as bordas, mesmo que estejam quentes, e que se dane a língua. É melhor queimá-la do que congelá-la.

E a fogo vai se consumindo, vai me consumindo, vai nos consumindo, até que não sobra mais nada no prato.

Não sobra nada visível. São apenas sobras.
Sobras de saudade.

Eu quero sentir saudades.

Quero sentir falta do abraço quente no inverno, antes de dormir, ao acordar, ao rever, ao encontrar.

Quero desejar loucamente te ver todos os dias, em dias espaçados, só aos finais de semana ou daqui a um mês.

Quero notar a sua ausência, a bagunça que você deixa pela sala e os fios de cabelo espalhados pelo chão claro do banheiro.

Quero perceber que você não fala comigo por mais de dez minutos, dez horas ou dez dias.

Quero me dar conta que não fazemos mais coisas triviais, como assistir séries, comer Miojo ou pegar no sono no sofá.

Quero sentir que falta algo, que falta carinho, que falta amor, que falta beijo, que falta afago, que falta sexo, que falta.

Você não deixa faltar nada. Não há tempo para perceber o que poderia ser melhor ou pior, o que poderia mudar ou permanecer. Não existe saudade onde há excesso.

Que falta que faz a falta.

Encontrei,
quebrei o tempo,
rompi a falta,
acabei com a vontade.
Adeus, saudade.