Você está preso em sua idade mental. Por mais que tenha obrigações e responsabilidades de adulto, você está condicionado ao seu eu-infantil.

Você é birra, não pode ser contrariado e se for, um “lá lá lá” e os dedos tampando os ouvidos torna-se argumento e isso vira a solução. Mal sabe você que os dedos empurram para a sua cabeça mais problemas e um dia ela pegará birra de você.

Você é imaturo. Está preso em suas próprias vontades. Não quer se programar, a vida é agora. Não quer ir lá, quer ficar aqui porque quer. É do seu jeito. É na sua hora. Em algum momento o parquinho irá fechar e você ficará sozinho.

Você é inconsequente. Hoje aqui e amanhã não se sabe. O dia vai acabar e amanhã terá outro igual. Quer já. Não dá para esperar. É essa aqui. Me vê todos. E nessa de ser tudo tão intenso, na hora do recreio você fica sem nada na lancheira.

Ok. Viva seu momento, consuma o seu mundo infantil. Uma hora a mente irá crescer e os caprichos não vão te cair tão bem como você espera. Está na hora de doar os seus brinquedos. Está na hora da sua vida entrar na puberdade.

Eu só queria fugir de mim. Gostaria de ir para um lugar confortável, onde a minha mente se sinta livre para fazer o que bem entende, para deixar de ser condicionada. Me libertar dos padrões, dos deveres, dos pudores, da desordem, do mundo que conhecemos. Sentir que posso fazer tudo e nada ao mesmo tempo, ter compromisso com a felicidade e sentir o conforto da salvação.

Aqui dentro continua sufocante. Quero fugir de mim, por mim, para amanhã me encontrar em um novo eu.

Quando uma situação aterradora nos invade, fugimos.

A fuga não é bonita, em um campo florido, em uma estrada vazia. A fuga ocorre de formas tenebrosas e nem sempre percebemos que estamos fugindo, nem para onde estamos indo. Fugimos dos lugares onde estamos, largamos tudo, saímos correndo, como se o problema tivesse ficado no lugar que estávamos. Fugimos de momentos, desviando a atenção da mente de um segundo que nos fez infeliz, como se pudéssemos prender o tempo em uma capsula para depois jogá-la fora. Fugimos de nós mesmos, buscando diferentes formas de agir diante da dor, dissimulando sorrisos, forçando situações, ignorando os sentidos, como se todas as emoções juntas pudessem anular apenas uma.

Fugir de um lugar, de um minuto e de nossas emoções é ficar preso em um ciclo de fugas. Fugimos do que nos faz mal, do que não nos serve mais. Corremos dos problemas, quando na verdade eles estão ao nosso lado no caminho da fuga. Dificilmente compreendemos que, para fugir, não podemos tentar esquecer o que nos causa sofrimento, pois assim o sofrimento vai sempre nos perseguir. Não devemos esquecer, devemos esclarecer. Esclareça a angustia, acabe com a agonia, delibere, desabafe.

Devemos aceitar o que nos aflige, para que não haja mais fugas, apenas despedidas.