Vivo pela metade. Metade do meu dia não é meu e a outra metade é pouco para transformá-lo em um dia inteiro. Não sou eu quem escolho qual metade viver, vivo pelas metades que me dão. Metade do meu dia é de trabalho e a outra metade de responsabilidades, com o que preciso para existir. Busco pela minha cara metade, luto pela metade de uma garrafa de cerveja com meus amigos e preciso de mais do que a metade de uma noite de sono para descansar. Já tentei me dividir, mas sei que se metade de mim não da conta e 1/4 deixa de ser matemática para se tornar burrice. Sou metade das vontades, metade dos esforços e metade de quem eu gostaria de ser. A outra metade, a que gostaria de ser quem sou, deve estar inteira dentro de mim.

Nunca fui amado. Acho que não faço o tipo simpático, desses que todo mundo quer ser amigo de graça, mesmo sem saber muito sobre o que gosta ou desgosta. Com o tempo, aprendi que as pessoas não vivem só de bons momentos, de risadas. Elas também apreciam a dor. Vivem bem com a própria, mas apreciam a dos outros. A dor engaja. Aprendi a criar vínculos com pessoas que sentem dó de mim. Aprendi a gostar das desgraças da vida. Cada pequena merda que acontece comigo vira um post no Facebook, buscando comentários, likes e mensagens de “tá tudo bem com você?”. Gosto de sentir que estão comovidos com os meus problemas, assim me sinto querido. E quando os problemas acabam, sei que as pessoas estão ali, por mim, e passam a gostar de uma pessoa depressiva tanto quanto gostam de uma pessoa divertida. Escolhi viver na dor para saber o que é o amor.

A felicidade precisa mesmo ser algo gigante ou as pessoas não percebem as pequenas coisas? Quando foi a última vez que você percebeu que o sorriso de um estranho na rua te fez sorrir também? Ou que alguém lembrou de ti após o almoço e deixou um doce na sua mesa do trabalho? Quantos pequenos atos são necessários para que você considere uma felicidade sem tamanho? Qual é o tamanho da sua felicidade?