Nunca tive grandes sonhos. Quando menor, sempre almejei coisas pequenas, como ter uma lancheira com garrafa térmica ou um lava rápido de brinquedo com espuma de verdade. Depois que cresci, os sonhos mudaram, mas nem tanto. Deixei de querer somente coisas materiais e passei a sonhar com experiências. Queria viajar de avião, sentar ao lado da janela e ficar vendo as nuvens passando o caminho todo. Queria conhecer um novo país, não entender o que estavam falando. Queria fazer amizade com as pessoas na mesa ao lado da minha no bar. Queria ser o primeiro a chegar na balada e o último a sair. Queria ficar mais de vinte quatro horas sem dormir. Queria que as pessoas gostassem do que eu escrevo. Queria ter coragem para chegar em alguém e roubar um beijo. Queria mais bebida no meu drink. Agora, enquanto continuo crescendo, os sonhos não perderam a força. Quero, mas quero menos. Quero tempo para mim. Quero dormir mais. Quero ficar mais ao lado de quem amo. Quero rir muito. Quero sair do trabalho sem rumo. Quero ter mais férias. Quero ser feliz.

Quero passar o resto da minha vida tendo sonhos acessíveis. Realizar não é difícil, difícil é não sonhar. Quem sonha e não concretiza é porque sonhou pouco.

Sonhe, até não ter mais com o que sonhar.

Você voltou. E sei lá porque se foi um dia, já me esqueci, e você voltou. Voltou para as nossas conversas de madrugada, sem hora para acabar, com intermináveis assuntos e o dobro de sono no dia seguinte. Voltou para as nossas pequenas loucuras, para me buscar novamente em casa quando não puder sair ou para me roubar no meio de uma festa chata e me levar para ver o nascer do sol em uma praça vazia com vista para a cidade. Voltou para os sábados de pizza na sua casa, com gente desconhecida e risadas sem motivo. Voltou para me tentar, para me fazer beijar a sua boca nos encontros na porta da balada ou para subir em cima de você no banco do carro na porta de casa. Voltou para me levar àquelas velhas histórias de gente que tem dupla identidade e que vivem escondidas em mansões. Voltou para ficar sem falar comigo na primeira noite em que dormimos juntos. Voltou para me fazer chorar por não dar um sinal de vida por uma semana. Voltou para desaparecer no meio de um encontro e me deixar a mercê. Voltou para sumir de mim e voltar para você.

 

Minha voz entoa comandos em bom tom. “Pare de ser bitolado”, como se as palavras saindo da boca e invadindo os tímpanos tivessem o poder de converter a minha imaginação. Esta já deixou de ser minha há algum tempo. Não me pertence. A imaginação é tão egoísta que não se permite ser de ninguém a não ser de si própria. Tento incessantemente fugir dos curtas que passam diante dos meus olhos, projetados em algum lugar entre a testa e a íris. Não paguei por essa sessão. A minha vontade é levantar da poltrona no meio do filme e falar muito mal dele por aí. Mas não posso. Não posso contar para as pessoas o que ando assistindo dentro de mim sem ser julgado como louco. Não serei Juqueri. Não serei estereotipado pelos meus pensamentos. Mente débil, corpo insano.