E todas as últimas coisas que fiz não foram para mim. Saí da cama para viver a vida para outras pessoas, tomar um café da manhã que já estava na mesa, pegar um ônibus que já tinha o percurso pré-determinado. Cheguei no trabalho para executar um trabalho que não me trará nada – exceto experiência e dinheiro, não sou egoísta para negar – e o que acrescentará será à empresa. Usei um computador que não é meu, almocei um prato feito, tomei o rumo de volta. Chego em casa e retorno para a cama, precursora da rotina pensada por outras pessoas. E, para não dizer que não pensei em mim, penso antes de dormir. Penso na competência que tenho para executar com maestria as tarefas que me dão e repenso nos porquês de não estar realizando as mesmas tarefas para mim. Penso nas minhas capacidades e de como o mundo as consome, me restando o resto. Penso em quanto eu poderia ter feito por mim, mas não fiz, pois preferi ser vitima. Penso que, em um próximo sair da cama eu poderei levantar para viver a vida, a minha, não a dos outros. Apesar de estar condicionado, aceitei as condições. Para estar por mim, preciso contratar as minhas vontades. Para estar por mim, preciso praticar a autodependência.

Esperei por esse dia. Se a vida pudesse ser pautada em um acontecimento, seria neste. A gente é bobo. Passamos os dias esperando por pequenas coisas para abrirmos mais sorrisos. O salário caiu, a cerveja chegou, o avião partiu, o abraço salvou. São pequenas besteiras que nos motivam. Já me senti confortável porque um desconhecido sorriu para mim na rua, porque elogiaram a minha roupa gratuitamente e por ter lugar vazio no ônibus. Depois de um tempo, quando a rotina se repete e nos acostumamos, deixamos de nos deliciar com as pequenas coisas. Queremos novas. Precisamos de experiências maiores. Buscamos momentos que nos valham a existência. E, como quem procura a chave de casa perdida na bolsa, dediquei boa parte dos últimos tempos buscando estes benditos momentos. Um, para ser mais específico. Rodei lugares, conheci pessoas e reforcei amizades, a fim de buscar o momento perfeito. Demorei a perceber que jamais encontraria. O que eu queria não era raso ou superficial, era profundo. A profundidade não é nítida, logo não pode ser classificada como um momento permanente. Eu, que queria um motivo para ser feliz constantemente, descobri que pautei minha vida de forma errada. A felicidade é curta porque é profunda.

A gente vai acabar. E se a gente não acabar, vamos nos acabar por causa do outro. Nunca combinamos, somos opostos que se dispuseram a apostar um no outro. Na loteria do amor, não ganhamos nem na raspadinha. Sabemos do que o outro gosta e fizemos questão de desgostar. Buscamos o equilíbrio nos problemas, na dor, no que o outro não pode dar. Nos equilibramos na corda bamba de um relacionamento sem sentido, esperando a hora que o primeiro vai cair. No fim, nós dois caímos. Caímos nos mesmos erros, nas mesmas mentiras e nunca caímos na real. A gente vai acabar, quando nos dermos conta de que isso não é amor.