Não há prazer maior do que viajar.

Amo sentir o vento da estrada entrando no carro, fazendo companhia aos passageiros e bagunçando o meu cabelo (aliás, ele é o único que tem licença poética para me despentear). Amo a música alta casada com a paisagem e entrar em um túnel que nunca acaba com um som bem agitado. Amo sentir a estrada vazia e contemplar a paisagem, o destino e as histórias das pessoas que amo estão no asfalto comigo.

Não há nada como escolher o assento ao lado da janela do avião e olhar as nuvens a viagem inteira. Pensar que ali é um universo diferente, que elas são comestíveis e que você pode encontrar com Deus sentado em uma delas observando a terra. Sair da sua cidade, entrar em uma aeronave e chegar em outro mundo, onde as pessoas têm outro dialeto ou falam um idioma que você não entende. É como estar em uma cidade cenografica onde você é o novo protagonista de uma série de curta temporada ou em um reality show onde o prêmio final é a experiência de descobrir um lugar novo.

Viajar é como assistir a um filme favorito e cada vez ver um final diferente.

Decidiram se casar. Ou aquele sentimento arrebatador era amor ou eles seriam só mais um casal que confunde orgasmo com paixão.

Ele sugeriu só um almoço para os mais chegados. Ela chorou e interpretou como uma ofensa, coisa de vagabunda que já deu muito e por isso não tem direito a entrar de branco na igreja. Ele concordou com uma festa para íntima para duzentos convidados, afinal, o sexo era bom.

Ela não aceitou alugar o vestido de noiva, queria ter algo para mostrar para os filhos. Ele não quis o salão de festas ao lado da igreja, queria se casar em um sítio. Não eram muito religiosos, então chamaram um amigo que acreditava mais em Deus do que eles para celebrar a união.

A festa estava impecável, daquelas que só existem em revistas de casamentos. Eles estavam falidos, mas felizes. A bebida liberada antes da cerimônia deixou alguns mais alegres antes da hora, incluindo o falso pastor.

– Vamos cortar a parte chata. Você a aceita como legítima esposa?
– Sim!
– E você, o aceita?
– Sim!
– Vocês tem certeza? Daqui para frente só brigas, vocês sabem, não é? Ela não vai querer ter filhos tão cedo porque isso vai acabar com a sua carreira e ele vai engordar em no máximo dois anos. Vocês vão discutir a relação porque um odeia ventilador e o outro só consegue dormir com algum cobertor. As crianças terão asma e ela não vai limpar a casa duas vezes por dia com produtos anti-ácaros e ele não vai parar de fumar. Vai rolar ciuminho em tudo quanto é lugar e é bom que vocês tenham um sofá-cama.
– …
– Brincadeira! O amor sobrevive a tudo isso. Vocês se aceitam?

A festa acabou ali. Mas eles viraram bons fuck friends. Orgasmo e amor não são iguais, mas o prazer é o mesmo.