Preencho mentalmente um caderninho com o que não gosto, o que me desagrada. Preencho mentalmente também um caderninho sobre coisas que adoro, mas nunca sei onde deixo, em qual gaveta do meu cérebro está. Logo, o caderno de coisas que eu não gosto fica sempre na escrivaninha, à vista, para que eu possa desabafar com o papel tudo aquilo que de alguma forma me incomodou. E acumulo ali, em milhares de palavras, mágoas que não posso apagar.

E por mais que eu tente esquecer do caderno do mal, é impossível. A todo o momento alguém me lembra que ele existe. Logo, quem me lembrou que o caderninho vive, automaticamente estará lá.

Já perdi a conta de quantas coisas escrevi, e para quantas pessoas, mas uma em especial parece que pega a minha mão e brincar de fazer caligrafia, fazendo com que eu escreva todos os dias no caderninho endemoniado.

Não gostaria de escrever nada. Não gostaria de escrever sobre você. Não gostaria, mas nesse momento a sua mão está guiando a minha cabeça a escrever coisas desagradáveis que não posso dizer.

Lendo e relendo constantemente o caderno infeliz, noto que a única parte que não tem a minha letra é a que fala sobre você.

Se você escreveu o rumo da sua história na minha, por que escolheu o caderno errado?