Todas as minhas vontades mais absurdas são abstraídas por você. Queria sair de casa, largar o emprego e tentar uma nova vida, com uma profissão diferente da minha, trabalhando de casa, cozinhando para os outros, não sei, mas saberia se dependesse só de mim. Gostaria de dizer adeus ao país, correr para outros mundos, conhecer novas pessoas, me entregar a novas culturas. Tenho vontade de ser do mundo, aprender dois idiomas ao mesmo tempo, fazer amizade com desconhecidos, ouvir histórias de gente que nunca mais vou ver na vida, consumir ideias alheias, ser boêmio.

No final nada disso ocorre, pois você me prende. Me colocou em uma redoma psicológica que me faz refém de suas vontades, transforma meu modo de ver o cotidiano e faz com que eu te inclua em minha rotina. A gente não vive junto, mas não consegue viver separado.

Não posso ser do mundo enquanto o meu mundo for você.

Escolhas. A vida é feita delas, dizem. Sempre acho que não estou escolhendo nada, que estão escolhendo por mim. Mamãe escolheu a minha escola e a minha roupa. Não escolheu a minha faculdade, mas também não escolhi. Quem escolheu foi o vestibular que tive maior pontuação. Não escolhi o meu curso, já que tentei vários e fui para o segundo que consegui. Não escolhi o meu primeiro emprego, trabalhei por obrigação, por dinheiro. Não escolhi o meu segundo emprego, trabalhei por obrigação, da faculdade. Não escolhi a minha área, ela me escolheu. Não escolhi os meus amigos, eles surgiram e se tornaram uma escolha. Não escolhi os meus relacionamentos, eles aconteceram. Não, a vida não é feita de escolhas. A vida é feita do que escolhem.

Vontade incontrolável
de ter controle
sobre as vontades.

Descontrolei-me,
perdi à vontade.