Despenquei do topo da coragem. Pulei, sem corda, direto para os meus propósitos e ideais. Liberei a adrenalina ao me libertar de uma mágoa. Gritei da atmosfera que precisava ser feliz. A queda foi livre, como sempre quis ser. Voei. Vi a terra e caí na real. Voltei para mim.

Lembro-me que nunca fui bom em escolhas. Na escola eu escolhia meu caderno pela capa, mas odiava as folhas pautadas em azul, pois sempre gostei de folhas pautadas em preto. Logo, eu tinha que comprar um novo caderno, com folhas pautadas do jeito que eu gosto, e fazer uma montagem com fotos de revista, colando com cola bastão. Depois era só finalizar com papel contact, e tava lindo, mas não do jeito que eu queria, com a capa pronta do desenho da moda e as benditas folhas pautadas em preto.

Foi aí que eu descobri que nunca fui bom em escolhas. Por mais que eu ficasse horas decidindo, sempre saia alguma coisa errada. Nunca soube escolher lugar na escola. Sempre sentava na frente e era odiado apenas por este fato. No fim do ano eu já tinha virado monitor da sala e orador da turma, quando na verdade eu só queria um coleguinha pra brigar por ter tomado o meu Toddynho.

Nunca soube escolher amigos. Já andei por anos com as meninas de óculos fundo de garrafa, saia comprida e rabo de cavalo, mas o papo sobre ditongos e as discussões sobre Baskhara nunca foram interessantes pra mim. Eu gostava do grupo dos encrenqueiros e populares, e assim sendo, um dia fiz parte da turma. No fim, eu só me envolvi em confusões que não eram minhas, como xingar a mãe da professora e empurrar um grupo de CDFs da escada.

Nunca soube fazer escolhas, mas aprendi a me conformar com as erradas.

Vou morrer sem saber fazer escolhas, mas pelo menos aprendi a queimar meus cadernos antigos, a empurrar a carteira pro meio da sala e esnobar os encrenqueiros sem perspectiva de vida.

Não gosto de começar do zero. Tem todo aquele trabalho de pensar no que deu errado, fazer revisão do passado pra descobrir onde está o erro, e repensar no erro me deixa triste. Ficar triste não é coisa de quem começa do zero, é de quem recomeça do meio. Aí eu perco a conta, porque nunca fui bom em matemática e acho que tô no início, quando na verdade eu só estou remoendo um monte de coisas complicadas pra tentar ser diferente. Tentar ser diferente também não é começar do zero, porque você precisa no mínimo de milhares de referências pra poder ser considerado diferente. Quando se trata de sentimento, nem se fala! Não dá pra amar novamente algo que já não se gosta mais, mesmo tendo como referência que é preciso aprender a perdoar. Perdoar até é começar do zero, mas é começar do zero pensando no que o outro fez de errado, e aí quem tem que começar do zero é o outro. Complicado.

Por hora, vou deixar o zero de lado. Do lado esquerdo. Um zero à esquerda já é algum começo.