Não vou me esquecer do hoje, mas devia. Devia dar um jeito de vomitar todas as minhas memórias em algum bueira, para ver se os ratos e o esgoto levam embora esse rancor, esse desgosto.

Gostaria de quebrar algum vidro e passar sobre o meu corpo, jogar álcool e sentir a dor me invadir a carne e a alma, para ver se a dor do âmago fica mais fraca e vai embora.

Preciso encontrar um modo de ficar bem, mas é impossível ter qualquer tipo de positivo quando o a única coisa que me vem em mente é você.

Que a dor venha e fique o tempo necessário, desde que você vá embora junto com ela.

O pouco que sei sobre você é o suficiente para que eu queira saber tudo. Qual é a sua cor favorita? Gosta de viajar? Vodka ou vinho? Dormir do lado direito ou do esquerdo da cama? E por que a gente ainda não está junto?

Tudo bem, entendo bem o silêncio e não quero respostas, quero você.

Era pra gente ser feliz.

Era pra gente estar agora na mesma cama, deitados, assistindo a uma série que um gosta mais do que o outro, só pela companhia.

Era pra gente estar agora empurrando um carrinho de supermercado, fazendo as compras do mês, discutindo porque um quer levar duas caixas de Bis e o outro argumentando que ainda tem algumas na despensa.

Era pra gente estar agora no site do Cinemark escolhendo qual filme vamos ver no shopping, na dúvida entre um besteirol e um suspense, escolhendo a melhor poltrona, sendo que um prefere bem no fundo e o outro prefere mais perto da tela.

Era pra gente estar agora rindo um do outro, porque um falou uma palavra errada, porque o outro está com o cabelo bagunçado, porque vemos graça onde não existe.

Era pra gente estar agora no mesmo lugar, decidindo o futuro juntos, vivendo o mesmo tempo e dividindo o mesmo espaço, mas estamos separados, cada um no seu canto, cada um por si, cada um sendo um só.

Era pra gente ser feliz, juntos.