Não ouço mais nada. O barulho do ambiente se confunde com o barulho da cabeça. Paro de pensar em uma coisa só e penso em tudo ao mesmo tempo. O peito aperta, como se alguém estive pressionando as duas mãos em algo lá dentro. Os batimentos aceleram. O ar acaba e não há oxigênio que entre pelo nariz e saia pela boca que resolva o problema. Uma agitação incontornável domina o corpo, que não responde, tentando se manter quieto como mecanismo de defesa. E aí, sem motivo, tudo passa.
Estafa.

Já fui bem fundo, mas ainda não encontrei. Fixei o meu olhar no seu, analisei a sua córnea, cristalino, pupila e retina, em busca de uma resposta. Analisei sua face, movimentos involuntários com a testa, sobrancelhas ou boca, e nada foi me entregue. Observei seus movimentos, voltas em torno do próprio corpo, mãos na cabeça, braços inquietos, sem resultado. Prestei muita atenção em seu jeito de falar, se o tom da voz mudava, alguma gagueira, desatenção no discurso e tudo continua igual. Vou encontrar, ainda que eu tenha que ir além de onde já fui, ainda que tenha que dar um jeito de invadir a sua mente e fazer parte do seu córtex. Vou descobrir a mentira tão bem guardada dentro de ti.

A expectativa é inimiga da limitação. A busca pela perfeição, pela utopia e pelo irreal limitam que você enxergue as pequenas vitórias de cada dia. E, no final, ao encontrar com a idealização praticamente intangível, sobram apenas as frustrações causadas pelas feridas do caminho, maiores do que os desejos.