Abri a folha do passado. Estava amassada, jogada em um canto, mas isso não me impediu de consumir o seu conteúdo. Assim como as marcas da folha, descobri de onde vinham as minhas marcas. Minha mente ficou junto com o passado e fez questão de tentar apagar o motivo de alguns traumas. Compreendo a boa intenção como mecanismo de defesa. Infelizmente, apagando a raiz de uma dor ela só ramificou inúmeras outras. A mente tentou passar a folha do passado, na esperança de desfazer todas as marcas do papel. Mas marcas não somem, não se apagam, são eternas, assim como um trauma. Para anular o peso de um trauma, basta entender os motivos do passado. Um trauma não some, ele perde a força.

E se não te faz feliz, como fugir?
A rotina, as ordens sem nexo, o pequeno poder, a ineficiência, a procrastinação. A insistência diária de sorrir artificialmente ao cumprir funções. A deficiência de ficar à mercê por doze meses para finalmente ter alguns dias de folga. É só dinheiro. É só futuro. É só pelo outro e nada por você.

E se não te faz feliz, por que ficar?

Deixe-me desvendar
este teu segredo.

Na visão de outrém
teu segredo ganha
mais de um sentido.

O teu ninguém toma
e o do outro não lhe diz respeito.

Teu segredo está
tão bem guardado
e quando eu te invadir,
o teu segredo será nosso.

Teu segredo é você.