Visitei o passado e encontrei problemas mal resolvidos, amores inacabados e pessoas que poderia ter me tornado hoje. Será que sou feliz com quem me encontrei ou com quem eu sou? Jamais saberei. Talvez o eu de ontem fosse mais intransigente, porra louca e intenso. Honestamente, não sei o que faria com esses atributos. Talvez teria me tornando um desses babacas que vai para a balada em busca de sexo fácil ou ter acordado para a vida e construído família, com um emprego de terno e gravata em algum firma e faria encontros mensais com a galerinha da escola. Talvez eu fosse amigo de gente que nem sabe o que é amizade, mas não faria diferença: para mim amizade seria qualquer tanto faz, já que a intransigência me deixaria cego quanto a quem realmente gosta de mim.

Passeando pelo ontem, descobri porque me tornei quem sou hoje. Um pouco de calculismo, metodismo e alguns ismos não me fizeram mal. Muito pelo contrário. Essa espécie de doença que me torna mais certeiro com o que quero e empático com quem amo deve ter servido para alguma coisa. Acho que sou feliz como sou, mas não tenho certeza se seria ainda mais feliz como eu era ou como poderia ser.

Virei as chaves da incerteza para abrir a porta da personalidade e encontrar diferentes pessoas dentro de mim.

Sem visitar o passado, jamais entenderia quem sou hoje. Sem viver o presente, nunca saberei quem eu poderei ser no futuro.

Não nasci pra ser assim. Nasci para viver um dia de cada vez, mas todos os dias de uma vez só. Para sair de casa e fazer o que dá vontade, seja pegar o carro e sair sem destino, trabalhar uma vez por semana, tomar sol a tarde num parque, seja me destinar a ter prazer. Nasci para sentir minhas vontades afloradas, ser espontâneo, aquela pessoa que olho e quero parecer.

Queria largar tudo, viajar pelo mundo, viver de amor. Acordar cada dia em um lugar, com café na cama, sem ter vergonha de estar despenteado ou com olheiras. Caminhar pelas ruas sem ter hora para chegar ou voltar.

Mas no fim, sempre retorno para o mundo real.

Odeio voltar para a realidade. Eu combino muito mais com a ilusão.

Mudei. Mudei para um lugar mais calmo, onde minhas vontades guiam a razão e os impulsos vivem livres. Mudei de lado, num lugar que me dá paz, tranquilidade e sabedoria. Mudei para um canto onde tudo o que eu já havia prometido para mim um dia fizesse sentido hoje, agora e não amanhã ou depois, negando o meu direito de ser feliz a hora que quero, não a hora que posso. Mudei de ano e ao contrário de todas as outras viradas, não deixei tudo para trás e só trouxe as coisas boas. Não. Eu trouxe junto comigo uma enorme bagagem de erros e acertos, pois sei que basta olhar para elas e ver que a mudança nunca fez tanto sentido. Mudei as metas, mas trouxe um pouco daquelas que estavam previstas para os anos anteriores. Mudei meus sonhos e desejos e comecei a colocá-los em prática, pois aspirações são lindas quando em meio aos devaneios, mas são realmente incríveis quando provamos que elas podem ser reais. Mudei e deixei de acreditar que o amanhã vai ser um lugar melhor sem ao menos ter vivido o hoje, sendo que o agora vai me pautar para o futuro.

Mudei, para mais próximo. Mudei para perto de mim.